Título: Candidatos caçam voto independente
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2008, Internacional, p. A16

Em ambiente menos amistoso, vencedores de Iowa tentam convencer os eleitores não filiados de New Hampshire

O ex-governador de New Hampshire John Sununu afirmou em certa ocasião: ¿Em Iowa eles colhem milho; em New Hampshire, escolhem presidentes.¿ A pré-candidata democrata Hillary Clinton e seus assessores não poderiam concordar mais. ¿Este é um novo dia, este é um novo Estado e esta é uma eleição primária (e não um caucus)¿, disse Hillary em comício sexta-feira em New Hampshire, tentando minimizar a importância de seu decepcionante terceiro lugar no caucus (assembléia partidária) de Iowa.

Os grandes vencedores de Iowa - o senador Barack Obama, que obteve 37,6% dos votos democratas, e o ex-governador de Arkansas Mike Huckabee, que conquistou 34,3% dos votos republicanos - enfrentam um ambiente bem menos amistoso nas primárias de New Hampshire, na terça-feira.

Huckabee não contará com os votos dos evangélicos, fundamentais na vitória de Iowa, e Obama disputará os cobiçados votos dos eleitores independentes palmo a palmo com o candidato republicano John McCain. Ao contrário de Iowa, onde o número de delegados é pequeno, a primária de New Hampshire tem grande influência na indicação dos candidatos de cada partido.

Em New Hampshire, a grande pergunta é: quem vai conquistar os eleitores independentes? Nas primárias do Estado, os eleitores filiados ao Partido Democrata votam em candidatos democratas, enquanto republicanos votam em republicanos. Já os independentes, ou seja, aqueles não filiados a nenhum partido, podem votar em qualquer uma das duas prévias.

INDEPENDENTES

O número de independentes não é pequeno - chega a 25% dos eleitores. ¿Os eleitores independentes são uma força muito maior em New Hampshire do que em Iowa¿, disse Peverill Squire, professor de Instituições Políticas Americanas do departamento de Ciência Política da Universidade do Missouri.

¿O senador McCain, por exemplo, espera ter um grande apoio dos independentes de New Hampshire, mas acho que agora ele está preocupado com a força de Obama entre esses eleitores¿, afirmou Squire.

A corrida republicana também será mais embolada em New Hampshire. Enquanto Iowa foi uma guerra santa entre o mórmon Mitt Romney e o batista Huckabee para conquistar o voto dos religiosos, New Hampshire será um duelo entre a facção financeira e de segurança nacional do partido e Huckabee, o outsider.

¿Estamos vendo uma campanha que não se restringe ao fervor religioso¿, disse Huckabee em entrevista à rede de TV NBC.

Huckabee quer usar o populismo econômico - com sua proposta de abolir o imposto de renda e adotar uma tarifa geral de consumo - para conquistar outras alas do eleitorado. Por isso, a facção economicamente mais conservadora do partido não pode nem ouvir falar no nome de Huckabee. ¿Ele não tem apoio nenhum de Wall Street nem dos principais lobistas. Além disso, não tem dinheiro para chegar a lugar nenhum¿, disse um assessor do Partido Republicano, em referência aos parcos US$ 2,3 milhões arrecadados por ele.

Ainda não se sabe, porém, quem será o representante da ala Wall Street dos republicanos. Há vários pretendentes. John McCain, que vem ensaiando uma recuperação e venceu as primárias de New Hampshire em 2000, é um dos grandes beneficiados pelo desempenho medíocre de Romney em Iowa.

Contudo, não se deve subestimar Romney e seu apelo à ala empresarial do partido. Rudy Giuliani, que caiu nas pesquisas e perdeu feio em Iowa, está concentrado na Flórida.

No Estado onde o lema é ¿Viva livre ou morra¿, o candidato libertário Ron Paul, azarão dos republicanos, também pode surpreender. Paul prega a eliminação de toda e qualquer intervenção do Estado na economia e do governo na vida dos cidadãos. A mensagem que pode ter eco em diversas comunidades de New Hampshire, onde os habitantes ignoram leis, recusam-se a usar cinto de segurança e a pagar impostos.

NOVA ESTRATÉGIA

Do lado democrata, Hillary Clinton está repensando toda sua campanha para a votação de terça-feira. Uma maior participação do ex-presidente Bill Clinton e ataques mais agressivos contra a falta de experiência de Obama estão nos planos da ex-primeira-dama.

Cheri Jacobs, estrategista republicana, aponta para um possível ¿benefício¿ a Hillary decorrente de sua derrota em Iowa. ¿Como ela não é mais favorita, deixa de ser o principal alvo dos ataques republicanos. Agora, nós veremos como Obama reagirá a esses ataques.¿

Segundo o analista político Roland Martin, Hillary havia tentado apropriar-se do slogan de ¿mudança¿ de Obama, mas a estratégia não deu certo. Agora, a senadora volta para seu velho lema da experiência. O que pode não ser uma boa idéia.

Pesquisas com os eleitores de Iowa mostraram que 50% dos presentes na votação democrata basearam sua escolha em um candidato que personificasse a mudança. Só 20% disseram que a experiência foi o principal fator para a escolha. A campanha da senadora aposta também na tese da ¿volta por cima¿. Bill Clinton, seu marido, foi o último candidato democrata que conseguiu a indicação do partido mesmo sem ganhar em Iowa e New Hampshire.

TUDO OU NADA

Para analistas, a pré-candidata precisa ganhar em New Hampshire para evitar um efeito bola de neve de Obama nas próximas primárias. ¿Se Obama vencer em New Hampshire, vai ser muito difícil para Hillary, ou qualquer outro democrata, evitar que ele ganhe a indicação¿, disse Squire.

¿A mesma coisa vale para o lado republicano caso vença Huckabee, o que é pouco provável. Tanto Romney como McCain precisam ganhar em New Hampshire para manter as esperanças. Quem perder estará acabado¿, afirmou o especialista.

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