Título: 'Nunca dá para comprar à vista', diz consumidora
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2008, Economia, p. B4
IOF não afeta consumo na baixa renda
Com ou sem CPMF e com IOF maior ou menor, consumidores de baixa renda, que não têm outra opção de pagamento senão parcelar o valor da compra de móveis e eletroeletrônicos, devem continuar fiéis aos carnês mensais.
A empregada doméstica Célia Maria Conceição Araújo, por exemplo, não sabia que conseqüências o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) trará para suas contas do dia-a-dia. Também não tinha informação sobre as diferenças entre a cobrança de CPMF e de IOF, assuntos complicados para boa parte da população. Mas, mesmo depois de informada pela reportagem sobre o que vai mudar na prática, Célia disse que não pretende rever seus hábitos de consumo. ¿Farei normalmente como sempre fiz. Sempre compro parcelado porque nunca dá para comprar à vista¿, afirma.
A empregada doméstica foi a uma das unidades de uma grande rede de lojas de varejo localizada no bairro do Limão, zona norte de São Paulo, para pagar uma parcela do carnê de uma televisão comprada há cinco meses. E já saiu da loja interessada por um modelo novo de fogão. ¿Vou comprar assim que terminar de pagar a televisão¿, disse. Quando olha para um produto à venda, Célia verifica primeiro o valor total à vista, e depois o valor das parcelas do financiamento. Os juros ou o valor total a ser pago não interferem tanto na decisão de compra.
ATENTOS
Mas os efeitos do aumento do IOF já começam a ser pesados por alguns consumidores antes de realizar compras a prazo. Na mesma loja, o empresário Ricardo Magnusson descartou a compra de uma geladeira por meio de financiamento.
¿Vou pagar à vista por causa do desconto. A gente tem maior poder de negociação e não paga IOF.¿ Além do acréscimo do imposto na compra por meio de parcelamento, os juros assustam: de 3,80% a 4,66% ao mês entre os produtos pesquisados pelo empresário. ¿No dia em que eu conseguir aplicar meu dinheiro a 4% ao mês, fecho as minhas portas e vou viver só disso.¿
No entanto, o empresário não acredita que o aumento do IOF vá frear o apetite dos consumidores em geral. ¿Acho que não vai mudar muito. Ninguém contesta, ninguém vai olhar. O governo ia tirar o dinheiro de onde? Do consumidor, claro. Os caras embutem o que quiserem no preço¿, diz.
O vendedor Cléber Alexandre Freitas, no entanto, acha que a medida deve reduzir o consumo. ¿Vai desaquecer a economia. Ninguém está disposto a pagar mais pelo produto¿, diz. Ele passou na loja para conferir as ofertas do saldão anunciado na TV, mas saiu decepcionado. ¿O celular está com R$ 300 de juros.¿ Porém, ele não deve desistir da compra. ¿Vou comprar, mas um modelo que não tenha juros ou que eu possa comprar à vista, mais barato¿, diz.
Pessoalmente, o vendedor não acredita que o aumento do IOF vá trazer benefícios concretos para a população. ¿Esse imposto já existia e, mesmo com a CPMF, a saúde sempre foi uma porcaria. Mas o governo ia achar um modo de compensar. No fim, quem sempre paga a conta somos nós¿, reclama.
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