Título: Calor cria empregos na terra do ventilador
Autor: Siqueira, Chico
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2008, Economia, p. B8

Em Catanduva, as vendas e as contratações aumentaram 40%

Os dias quentes e ensolarados nunca foram tão festejados em Catanduva, conhecida como capital do ventilador, no noroeste de São Paulo. As altas temperaturas e o aquecimento da economia aumentaram em até 40% a venda dos aparelhos fabricados pelas indústrias do município, onde são produzidos 90% dos ventiladores de teto vendidos no País.

Neste verão, a cidade de 109 mil habitantes vai produzir 4 milhões de unidades e faturar cerca de R$ 200 milhões com as vendas. Para isso, aumentou a contratação de mão-de-obra em 40%. As cinco maiores indústrias da cidade, que empregavam 3 mil trabalhadores até 2006, deverão encerrar a alta temporada de vendas com 4,2 mil funcionários.

¿Este deverá ser o melhor verão de todos os tempos¿, afirma o diretor Industrial da Arge Ventiladores, Mauricio Gianni. Para dar conta das encomendas, a empresa aumentou a produção de 3 mil para 7 mil ventiladores por dia. ¿Temos alguns setores trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana.¿ A Arge, que empregava 415 funcionários, teve de contratar outros 220. ¿Nossas vendas aumentaram em 40% e essa porcentagem é praticamente a mesma em todo o setor¿, diz Gianni.

¿Nosso verão vai até abril¿, afirma Eliezer Moraes, gerente de Vendas da Loren Sid, a maior fabricante de ventiladores de teto do País, que responde por quase metade do mercado nacional. Neste ano, a Loren Sid deve fabricar perto de 1,8 milhão de unidades, um aumento de 25% em relação ao verão passado. O número de funcionários também cresceu - além dos 690 que fazem parte do quadro fixo, outros 126 foram chamados para esta temporada.

¿O que ocorre é que os comerciantes conseguiram conceder mais crédito para o consumidor e, como as vendas na ponta foram boas, eles se sentiram mais seguros para fazer as encomendas¿, diz Moraes. Segundo ele, a confiança fará com que o comércio faça as últimas compras em abril, para manter o estoque, o que não vinha ocorrendo nos últimos anos.

O aquecimento do setor chegou às empresas terceirizadas que fabricam componentes, onde as contratações também tiveram alta. ¿Nossa mão-de-obra na linha de fabricação de peças para ventiladores teve de ser ampliada em 20% e nosso faturamento vai crescer mais de 15%¿, disse Fábio Nogueira, proprietário da Nog Capacitadores, que produz uma espécie de bateria elétrica para impulsionar a hélice do ventilador.

O mesmo ritmo de crescimento é verificado nas empresas de fabricação de pás e lustres para lâmpadas de ventiladores de teto. A Mademil, que fabrica pás de madeira, contratou mais e ampliou os turnos de trabalho e o parque industrial.

De acordo com o presidente da Associação Comercial de Catanduva, Alexandre Nobalbos Ramon, a cidade tem 50 empresas que prestam serviços terceirizados para as indústrias e empregam entre 6 mil e 9 mil trabalhadores no pico da produção.

A fabricação de ventiladores emprega 60% da mão-de-obra ocupada e é a segunda atividade econômica mais importante do município. A primeira é a fabricação de álcool e açúcar pelas cinco usinas da cidade. A previsão das indústrias é de que até 20% dos funcionários sazonais sejam mantidos nas fábricas este ano, ante 10%, no máximo, dos verões anteriores.

CHINESES

O setor também está sendo beneficiado nesta temporada pelo fim da concorrência com os ventiladores chineses, que deixaram de ser importados pelo comércio depois da sobretaxa de 40% imposta pelo governo federal no ano passado.

¿O ventilador chinês ficou mais caro que o nacional, por isso não recebemos mais esses aparelhos¿, diz Sebastião Pedro Dornelles, dono de uma loja de armarinhos no centro de Catanduva. ¿No fim de 2006, cheguei a vender mais de 200 ventiladores chineses, que eram mais baratos, mas não davam os empregos que os nossos estão dando agora.¿

Apesar disso, os chineses continuam a ser o principal obstáculo para os aparelhos fabricados em Catanduva conquistarem espaço no mercado externo. ¿Um ventilador chinês de mesa vendido na loja de um país do Mercosul custa entre US$ 14 e US$ 15 para o consumidor final. Um produto igual brasileiro vai custar entre US$ 22 e US$ 25 na mesma loja¿, compara Moraes.

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