Título: 'Pancada' no petróleo marca início do ano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2008, Economia, p. B9

Preço chegou a US$ 100 e há analistas apostando em mais altas

Clifford Krauss

O preço do petróleo começou o ano com um salto. Chegou a US$ 100 em Nova York logo depois do meio-dia de quarta-feira, quando um operador elevou o preço fazendo oferta maior por um lote modesto e vendendo logo em seguida, com pequena perda. O preço fechou em US$ 99,62. Embora o negociante solitário aparentemente só quisesse chamar a atenção, o salto de US$ 3,64 refletiu tendências mundiais mais profundas, entre elas o aumento da demanda da China, da Índia e dos próprios países produtores.

¿Começamos o ano com uma pancada¿, disse Fadel Gheit, analista de energia da Oppenheimer & Co. A volatilidade indicou que os negociantes vão reviver a perturbação nos mercados energéticos que marcou os últimos meses de 2007. Mas o recuo de dezembro foi breve e alguns especialistas já falam em barril a US$ 120 em 2008. Outros prevêem que uma desaceleração econômica aliviará as pressões da demanda.

¿Os preços da gasolina subirão muito nesta primavera (no Hemisfério Norte); os do óleo de calefação e do diesel subirão muito imediatamente¿, disse Tom Kloza, analista-chefe do Oil Price Information Service. Mas, ¿se eu tivesse de apostar no que ocorrerá primeiro - o petróleo em US$ 115 ou em US$ 85, eu apostaria em US$ 85¿.

Os preços da gasolina até agora não acompanharam a alta do petróleo, ficando na média nacional de US$ 3,05 o galão para o grau regular, segundo a Associação Americana do Automóvel. É menos que o pico de US$ 3,23 em maio, mas US$ 0,73 mais que um ano atrás.

O impulso imediato para a alta da quarta-feira pareceu vir de um ataque de rebeldes ao centro petrolífero nigeriano de Port Harcourt e do mau tempo no Golfo do México, que desacelerou as exportações do país. A pressão aumentou com a turbulência no Paquistão, após o assassinato de Benazir Bhutto.

Não faltam explicações para a alta de cerca de 60% no último ano. O preço estava abaixo de US$ 25 em 2003 e abaixo de US$ 11 em 1998. Nos últimos anos, economias em rápida expansão motivaram o aumento do consumo. Tensões políticas em países como Nigéria, Venezuela e Irã ameaçam os suprimentos mundiais, enquanto campos importantes no México, EUA e outros países envelhecem e produzem menos.

As grandes companhias petrolíferas, embora cheias de dinheiro, têm dificuldade para encontrar campos promissores. Campos recém-descobertos em águas profundas do Golfo do México e do Brasil levarão anos para produzir. O governo Bush limitou ainda mais os estoques, anunciando que aumentaria a Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA nas próximas semanas.

Investidores e fundos hedge contribuíram para a alta. O petróleo, como outras commodities, passou a ser visto como um porto seguro por negociantes assustados com o dólar fraco e os efeitos do mercado de crédito altamente competitivo nos EUA.

O petróleo está próximo do recorde corrigido pela inflação, alcançado em abril de 1980, no rastro da revolução iraniana, quando o preço saltou para US$ 102,81, em valor corrigido. Outras commodities tiveram alta, motivando especulações de que a inflação poderá ser um problema este ano. O ouro ultrapassou US$ 860 a onça-troy.

Diferentemente dos choques do petróleo nos anos 70 e 80, o atual ainda não causou recessão nem contraiu significativamente os gastos do consumidor. Mas aumentou o déficit comercial e a preocupação com a inflação.

Gheit afirmou que, se houver recessão, ¿os preços do petróleo cairão, pois a demanda diminuirá e os especuladores saltarão primeiro, o que levará a um colapso¿. Sobre o operador que elevou o preço a US$ 100, Gheit disse: ¿Vai emoldurar o recibo e vendê-lo por US$ 100 mil.¿

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