Título: Meganegócios de R$ 35 bi agitam o setor elétrico no 1º semestre
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2008, Economia, p. B10

Vendas da Cesp e da Brasiliana, além do leilão da usina de Jirau, atraem investidores de todo o mundo

Três meganegócios devem agitar o setor elétrico brasileiro no primeiro semestre do ano e movimentar cifras superiores a R$ 35 bilhões. Em jogo estão os controles da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), da Brasiliana (dona da Eletropaulo e da AES Tietê) e da segunda usina do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, Jirau.

Os negócios podem mudar a cara do setor, que passaria a contar com novos grupos na liderança da distribuição e geração de energia. Quem comprar a Cesp, por exemplo, levará a terceira maior produtora de eletricidade do País. No caso da Brasiliana, levará a maior distribuidora da América Latina, a Eletropaulo. Além disso, quem arrematar Jirau terá em mãos o maior empreendimento em construção na área de geração, com 3,3 mil megawatts (MW).

A expectativa do mercado é de que a geradora do Estado de São Paulo seja a primeira a ser vendida, possivelmente em março. O preço inicial deve ficar em R$ 45 por ação, o que significaria R$ 14 bilhões pela companhia. Mas, segundo fontes, o preço poderia chegar a R$ 60 por ação, elevando o total para mais de R$ 20 bilhões.

A Cesp, com potência instalada de 7,5 mil MW, já entrou em processo de privatização por três vezes e não conseguiu ser vendida. Na primeira oportunidade, em novembro de 2000, ninguém deu lance para arrematar a estatal. Em maio do ano seguinte houve uma nova tentativa de privatização, mas o leilão foi suspenso por causa do racionamento de energia.

Desta vez, no entanto, especialistas garantem que tudo será diferente. Primeiro, porque a liquidez internacional continua em alta, incentivando os investidores a buscar novos negócios no mundo. Segundo, porque o estreitamento entre oferta e demanda de energia, sem racionamento, tende a elevar o custo da eletricidade, o que aumenta as receita das empresas. Isso sem contar que não há geradoras em operação à venda no País.

¿A Cesp é uma empresa que todo mundo quer. Sua dívida está bem reestruturada e sua geração de caixa está em torno de R$ 1,2 bilhão¿, diz o gerente da Prosper Corretora, André Segadilha. Além disso, diz, a empresa atua em São Paulo, um dos melhores mercados do País, e tem uma participação expressiva de consumidores livres (que compram diretamente da geradora) em sua carteira - da ordem de 30% das receitas.

De acordo com analistas de mercado, o apetite dos investidores pela geradora é grande. Há uma lista enorme de potenciais compradores, como Iberdrola, Neoenergia, Suez, CPFL, Light, Enel, Energias do Brasil e Pátria Investimentos, além de fundos estrangeiros.

O anúncio de venda da Cesp, feita pelo governo no fim do mês passado, só não agradou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - que, por causa disso, terá de adiar mais uma vez a venda de sua participação na Brasiliana. A instituição já havia adiado essa venda para não prejudicar a competição no leilão da Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira. Agora, segundo fontes, deve aguardar também o leilão de Jirau, previsto para maio. A expectativa anterior era de que o processo de venda da empresa fosse concluído ainda neste mês.

A Brasiliana surgiu em 2003, com a renegociação de dívidas do Grupo AES com o BNDES. Na reestruturação, a empresa passou a deter o controle acionário direto e indireto da AES Tietê, Eletropaulo e Uruguaiana. No ano passado, o banco de fomento decidiu vender sua participação.

Segundo o contrato, o BNDES fará um leilão com os interessados. Com base no resultado, a AES terá 30 dias para exercer o direito de compra das ações pelo preço oferecido pelo vencedor do leilão. Se não levar, terá de vender toda sua parte e deixar o País. O preço da empresa está calculado entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões.

No mercado, as apostas estão equilibradas. Há quem acredite que a empresa não resistirá ao preço ofertado pelos investidores e vai vender sua parte. O presidente da empresa no Brasil, Britaldo Soares, afirmou, em recente entrevista ao Estado, que tudo tem uma lógica econômica. ¿Ninguém rasga dinheiro¿, disse. Mas o executivo destacou que o Brasil representa 34% do faturamento consolidado do grupo, o que reforça o interesse em permanecer no País.

¿Se não surgir nenhum grupo externo disposto a pagar um preço muito acima do mercado para entrar no País, a AES estará inclinada a exercer seu direito de compra¿, aposta a analista da corretora Ativa, Mônica Araújo. O destaque da Brasiliana é a diversificação dos ativos. Além da Eletropaulo, a empresa detém o controle da AES Tietê, uma das geradoras mais eficientes do País, com dez hidrelétricas. Também tem a concessão de uma termoelétrica a gás, com capacidade de 639 MW.

A participação dos investidores no leilão de Jirau vai depender do preço-teto estipulado pelo governo. A expectativa é de que o resultado de Santo Antônio, cujo preço ficou em R$ 78,9 o MWh, derrube ainda mais o preço. Nesse caso, os investidores farão muitas contas para entrar na competição.

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