Título: Para BCs, exportadores são frágeis
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2008, Economia, p. B9
Autoridades monetárias avaliam que país dependente de venda externa sofrerá mais com eventual recessão nos EUA
Países mais dependentes de exportações são os mais frágeis diante de uma eventual crise internacional causada pelo desaquecimento da economia dos Estados Unidos. Essa é uma das conclusões a que chegaram presidentes de bancos centrais reunidos na Basiléia, Suíça, durante encontro do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), encerrado ontem.
Segundo o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, o diagnóstico é o de que economias que dependem mais da demanda externa sofrerão mais os efeitos de uma eventual recessão americana, em caso de aprofundamento da crise imobiliária no país.
Uma das saídas apontadas para fortalecer as economias do impacto global da crise das hipotecas seria o fortalecimento da demanda interna. Meirelles concordou que China e México são exemplos de países com maior dependência de vendas para o exterior. ¿Houve preocupação com países muito dependentes de exportações¿, disse o presidente do BC.
O Brasil não despertaria a mesma preocupação por ser um exemplo de país cuja economia está crescendo com base na demanda interna, proveniente do aumento da renda da população, do nível de emprego e do acesso ao crédito.
Em dezembro, o Relatório Trimestral de Inflação do BC já havia estimado que a demanda interna deve sustentar em 2008, pelo terceiro ano seguido, o nível da atividade econômica.
Conforme Meirelles, a solidez dos fundamentos da economia brasileira voltou a ser elogiada pelas autoridades monetárias. ¿No caso do Brasil, não houve discussão de pontos fracos. Não significa que não existam¿, disse. Entre os ¿alicerces¿ elogiados estão as reservas de US$ 180 bilhões. Além disso, teriam sido ressaltadas a política monetária responsável e as metas de inflação e de superávit primário cumpridas.
Meirelles não quis avaliar se a redução do superávit da balança comercial - a perspectiva para 2008 do BC é de que as importações cresçam 22,4%, contra aumento de 6,6% das exportações - contribuirá para diminuir ainda mais a dependência brasileira do resto do planeta.
Sobre o impacto das turbulências no cenário econômico internacional, Henrique Meirelles se mostrou otimista. Segundo ele, ¿as perspectivas para o Brasil são favoráveis ao crescimento¿. ¿Mesmo que haja um certo desaquecimento da economia americana, o BC prevê crescimento de 4,5% no Brasil em 2008¿, afirmou, ressaltando que cabe ao BC gerenciar o balanço de riscos entre produtividade e inflação. ¿Estamos confortáveis, mas vigilantes.¿
Meirelles demonstrou compartilhar a precaução sobre a extensão da crise global manifestada em entrevista coletiva, na sede do BIS, pelo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet.
Para ele, os riscos de turbulências econômicas persistem e a crise americana ainda pode contagiar o mundo. Em compensação, Trichet elogiou a ação conjunta do banco central americano (Fed), do BCE e dos bancos nacionais da Suíça, da Inglaterra e do Canadá contra a crise, em dezembro. ¿A ação dos bancos centrais provou que temos capacidade de influenciar os rumos e disciplinar os mercados.¿ Trichet também não considera provável o cenário de estagnação internacional, embora ressalte a interdependência das economias.
¿O crescimento mundial continua bem robusto, mesmo que haja uma leve desaceleração.¿ Os propulsores desse crescimento, afirmou Trichet, devem ser continuar a ser os países emergentes, entre eles o Brasil. ¿Há uma grande e dinâmica parte do globo que segue intocada pela crise¿, avaliou. ¿No momento em que estamos falando, as economias emergentes estão se mostrando muito dinâmicas e não demonstram indícios de contágio.¿
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