Título: Adesão à vacinação é baixa, diz especialista
Autor: Sant¿Anna, Emilio
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2008, Vida&, p. A14

E combate ao transmissor da febre amarela nas cidades, ainda menor

Falta de proteção. Para especialistas em saúde pública e infectologistas, as mortes causadas por febre amarela no País revelam que a população se lembra do problema apenas quando esses casos começam a aparecer com maior freqüência. ¿Conseguimos uma cobertura vacinal alta nas crianças, mas o mesmo não acontece entre os adultos¿, diz José Cerbino Neto, infectologista e especialista em vacinas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio.

Causada por um vírus do gênero Flavivírus, a doença tem como sintomas febre alta, dor de cabeça e lombar, náuseas, vômito, prostração e calafrios. A vacina para a febre amarela está disponível durante todo o ano nos postos de saúde. O mesmo acontece com as vacinas contra a rubéola e caxumba, que fazem parte do calendário oficial de vacinação do Ministério da Saúde. Ainda assim, o Brasil continua tendo casos dessas doenças.

Desde 1942, nenhum caso de contágio de febre amarela é registrado em áreas urbanas. Os especialistas, no entanto, não descartam a possibilidade de isso acontecer em breve.

Nas áreas silvestres existem dois vetores para a doença: os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Nas cidades, no entanto, a transmissão é feita por um mosquito mais conhecido da população: o Aedes aegypti - o mesmo vetor da dengue. ¿O risco para as cidades existe, pois o mosquito da dengue está presente em praticamente todas as áreas urbanas do País¿, diz Cerbino.

Mesmo criticando a baixa adesão de adultos às campanhas de imunização, o infectologista afirma que a eficácia do combate ao vetor nas cidades é ainda menor. ¿O controle do Aedes aegypti não é tão bem-sucedido quanto a vacinação¿, diz.

Para a coordenadora de controle de doenças do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado de São Paulo, Clélia Aranda, doenças como a febre amarela não fazem parte da preocupação da população fora de épocas de crise pois não são tão visíveis.

¿Como não faz parte do dia-a-dia das pessoas, como a dengue, acaba caindo no esquecimento¿, afirma. A coordenadora do CVE diz que no caso de doenças como a pólio o mesmo não acontece em função das constantes campanhas.

Ela lembra que a febre amarela tem características sazonais e que no início da década o País passou por situação semelhante. ¿De tempos em tempos, o registro de casos de febre amarela têm picos¿, diz. ¿Isso faz parte da evolução histórica da doença.¿

Os especialistas, no entanto, não descartam a possibilidade de interferência das mudanças climáticas no aparecimento de surtos nos próximos anos. ¿O descontrole do clima e o aquecimento global podem sim causar um desequilíbrio que favoreça situações como essa¿, afirma o infectologista da Fiocruz.

CAUTELA

O infectologista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Vicente Amato Neto recomenda cautela à população, mas não vê motivos para alarme. ¿Temos as regiões endêmicas como o Norte e Centro-Oeste do País e a área de transição que abrange parte da Bahia, Minas, São Paulo e Paraná. Mas a febre amarela, por enquanto, é apenas silvestre e pode ser prevenida com a vacina que tem uma proteção muito boa¿, explica.

Ele afirma que existe a possibilidade de contágio nas áreas urbanas em função da disseminação do Aedes aegypti, mas segundo Amato Neto, cabe ao Ministério da Saúde decidir sobre a necessidade de uma campanha de vacinação em todo o País.

Para ele, no entanto, hoje não existe essa necessidade. ¿O ministério está agindo bem vacinando as pessoas nos locais onde ocorreram esses casos. No momento, é isso que deve ser realmente feito¿, diz.

CAMPANHA

O Estado de São Paulo começa nesta semana a campanha de reforço da vacinação contra a febre amarela. Todas as pessoas que forem viajar para as áreas consideradas de risco, como as regiões Norte e Centro-Oeste estão sendo orientadas a se imunizar nos postos de saúde com pelo menos dez dias de antecedência à viagem.

¿A atenção à vacinação tem de ser constante¿, diz Clélia. ¿Todos os anos fazemos essa recomendação nessa época.¿ A coordenadora de Controle de Doenças do CVE recomenda especial atenção para os caminhoneiros e pessoas que pretendem praticar ecoturismo. ¿Muitas vezes, o turista vai para a casa de algum parente nessas regiões e acaba indo para áreas de mata silvestre sem estar vacinado¿, diz. ¿Ele não planejou nada disso, mas acaba se expondo ao contágio, por exemplo, em uma pescaria.¿

Para ela, em épocas como essa, a população fica mais atenta, o que acaba tendo um resultado positivo para as ações da vigilância epidemiológica. ¿Fico até mais preocupada fora desses períodos, pois as ações de vigilância dependem das notificações¿, diz.

A vacina contra a febre amarela é gratuita e tem validade por dez anos. Além de postos em todo o Estado, a vacina está disponível nos terminais rodoviários Barra Funda e Tietê, nos aeroportos de Congonhas e Guarulhos, no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Hospital das Clínicas de São Paulo e no Instituto Pasteur.

FRASES

José Cerbino Neto Infectologista especialista em vacinas da Fiocruz

¿Conseguimos uma cobertura vacinal alta nas crianças, mas o mesmo não acontece entre os adultos. O controle do Aedes aegypti não é tão bem-sucedido quanto a vacinação¿

¿O aquecimento global pode sim causar um desequilíbrio que favoreça situações como essa¿

Clélia Aranda Coordenadora de controle de doenças do Centro de Vigilância Epidemiológica

¿Como não faz parte do dia-a-dia das pessoas, como a dengue, (a febre amarela) acaba caindo no esquecimento. De tempos em tempos, o registro de casos tem picos¿

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