Título: Sucesso medido em dólares
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2008, Noats e Informações, p. A3

Com um total de US$ 1,54 trilhão, o investimento estrangeiro direto cresceu 17,8% no ano passado, no mundo todo, e o Brasil foi uma das estrelas desse espetáculo. O País absorveu US$ 37,4 bilhões, praticamente o dobro do recebido em 2006 - 99,3% foi a variação exata. Nesse quesito, expansão do investimento direto recebido, só a Holanda superou o Brasil, com o extraordinário aumento de 2.285,1%, mas esse desempenho se explica por uma única operação, a compra do Banco ABN Amro pelo consórcio RBS-Fortis-Santander. De um ano para outro, o capital destinado à aplicação direta na Holanda saltou de modestos US$ 4,4 bilhões para US$ 104 bilhões.

Os números foram divulgados na terça-feira, em Genebra, pela Organização das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e são parte de um levantamento realizado periodicamente.

Excluída a Holanda, as três maiores taxas de crescimento foram exibidas por países latino-americanos - 92,9%, no caso do México, e 92,2% no do Chile. O dinheiro aplicado em companhias mexicanas, US$ 36,7 bilhões, foi quase igual àquele dirigido a empresas brasileiras.

Dos três países, o Brasil foi o último a reingressar no circuito internacional de investimentos depois da crise internacional dos endividados nos anos 80. Foi o mais lento na adoção de reformas, no combate à inflação e na abertura comercial.

O capital produtivo só voltou a fluir para o País, em volumes significativos, depois de iniciada, com o Plano Real, de 1994, uma estabilização para valer.

Durante algum tempo, as privatizações foram atrativos especiais, mas agora, acumulados os bons efeitos de mais de uma década de mudanças, o investimento chega sem necessidade desse estímulo.

Entre os emergentes, a China permaneceu, em 2007, como o principal destino do investimento estrangeiro direto, com um total de US$ 67,3 bilhões. Mas esse montante foi 3,1% menor que o do ano anterior. Também o fluxo destinado à Índia diminuiu, passando de US$ 16,9 bilhões para US$ 15,3 bilhões.

As chamadas economias em transição - ex-comunistas - também têm tido um bom desempenho na atração de capitais para atividades produtivas, em parte pelo dinamismo recém-adquirido, em parte por oferecerem a grandes grupos industriais europeus mão-de-obra qualificada bem menos cara que a dos países mais avançados da Europa Ocidental. Em 2007, o capital destinado a investimento direto nesses países, US$ 98 bilhões, foi 41% mais volumoso que o de um ano antes.

Com o ingresso de vários desses países na União Européia, cresce o estímulo a operações desse tipo, já que o acesso dos produtos aos grandes mercados tradicionais é facilitado pela extinção de barreiras.

Isso já era esperado quando o Mercosul ainda negociava o acordo de livre-comércio com o bloco europeu, mas os governos do Brasil e da Argentina desprezaram esse detalhe, como se as vantagens obtidas pelos países do Leste Europeu fossem desimportantes.

Mas não só a China e os antigos satélites europeus da União Soviética estão atraindo grandes investimentos. A Rússia captou mais que o Brasil, no ano passado: US$ 48,9 bilhões, 70,3% mais que em 2006.

Ainda sobrou muito capital nos mercados internacionais, durante a maior parte do ano passado, e isso também ajudou a engrossar o fluxo global do investimento estrangeiro direto. Desde a eclosão da crise do mercado hipotecário americano as condições de financiamento ficaram mais severas e o cenário tende a ser, segundo os especialistas, menos favorável em 2008. Apesar disso, os emergentes ainda deverão receber muito dinheiro, na avaliação da Unctad e de outros organismos oficiais e privados.

Entre as principais economias latino-americanas, a Argentina se destacou, nos últimos anos, pela incapacidade de atrair fluxos importantes de capitais. No ano passado, o investimento direto na Argentina, US$ 2,9 bilhões, foi 39,6% menor que o de 2006, segundo a Unctad. Pode-se apenas conjecturar sobre a explicação, mas não parece haver grande mistério. Controle de tarifas de serviços de utilidade pública, congelamento de preços e insegurança para os investidores provavelmente servem como explicações para boa parte desse resultado, um bom tema de reflexão para a presidente Cristina Kirchner.

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