Título: Aliado a Dilma, empresariado teme nova crise
Autor: Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2008, Nacional, p. A6

Para setor, nomeação de político na área energética pode comprometer medidas para evitar novo apagão

A indicação de um político para o Ministério de Minas e Energia no momento em que já se admite a possibilidade de um novo apagão elétrico no País preocupa empresários e associação de empresas do setor. Os empresários se tornam aliados da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que resiste ao critério político para a definição do novo ministro e para a troca de comando de postos-chave no setor elétrico, atualmente ocupados por pessoas de sua confiança.

Entre os empresários - que não quiseram se identificar para não criar dificuldades em suas relações com o governo - há os que defendem a efetivação de Nelson Hubner, que assumiu o ministério interinamente em maio do ano passado, quando Silas Rondeau foi afastado por denúncias de envolvimento com o escândalo de superfaturamento em obrar públicas comandado pela construtora Gautama, descoberto pela Operação Navalha da Polícia Federal.

O momento é bastante delicado para o setor elétrico: baixo índice de chuvas e dificuldades no abastecimento de gás para as termoelétricas.

Por causa do baixo índice de chuvas no mês passado, os reservatórios das principais hidrelétricas estão baixos. A situação obrigou o governo a acionar todas as usinas termelétricas disponíveis. Mas o problema mostrou sua outra face, porque as termelétricas também têm sua capacidade de geração limitada pela escassez de gás natural.

É esse quadro que preocupa o setor privado. Há o temor de que um político - sem experiência e conhecimento técnico no setor - não consiga tomar as medidas preventivas necessárias para evitar um novo apagão no País. O momento, segundo esses empresários ouvidos pelo Estado, é de decisões técnicas, que não podem ser postergadas. Eles ponderam que uma troca de equipe provoca uma paralisação nas atividades do ministério por pelo menos seis meses, o que poderia ser fatal para o ritmo de crescimento da economia.

INCERTEZA

O ex-ministro de Minas e Energia e atual presidente da Companhia Energética de Brasília (CEB), José Jorge, defende uma definição para os postos no setor elétrico porque a prolongada interinidade de Nelson Hubner só contribuiu para gerar um ambiente de incerteza. ¿O setor elétrico está acéfalo, sendo dirigido por substitutos¿, disse ele. A mesma situação de interinidade, na avaliação do ex-ministro, ocorre também na presidência da Eletrobrás e de outras companhias estatais do setor. ¿O substituto não está fixado no cargo e o poder de decisão dele fica limitado.¿

José Jorge, no entanto, não é contra a indicação do senador Edison Lobão (PMDB-MA) para a pasta. ¿Ele é um político experiente, vai depender da equipe que montar¿, afirmou. Segundo o ex-ministro, com a definição dos ocupantes dos postos-chave do setor elétrico, a equipe passa a ter uma perspectiva de trabalho de três anos, até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ¿Deixa de ser um interino, que está lá e pode sair na semana que vem¿, afirmou.

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