Título: Nomeações ainda são imprevisíveis
Autor: Sotero, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2008, Internacional, p. A11

Vitórias de Hillary e McCain em New Hampshire tornam mais complicado o desfecho da corrida presidencial

A inesperada vitória da senadora Hillary Clinton sobre Barak Obama na briga pela candidatura presidencial do Partido Democrata, nas primárias de New Hampshire, e o triunfo de John McCain, entre os republicanos, embaralharam os cálculos da disputa à Casa Branca e tornaram seu desfecho ainda menos previsível - seja na fase preliminar, que se concluirá com as convenções nacionais, no início de setembro, seja na reta final para o pleito de 4 de novembro.

Entre os democratas, as urnas do pequeno Estado de New Hampshire reduziram a competição a dois candidatos. O ex-senador John Edwards, que foi vice de John Kerry em 2004 e ganhou de Hillary em Iowa, ficou num distante terceiro lugar e não parece ter fôlego ou dinheiro para novos embates. O momento que ele escolher para jogar a toalha poderá, porém, afetar a direção do duelo entre Hillary e Obama.

No lado republicano, a ressurreição do senador John McCain, do Arizona, puxou a disputa para o centro. Ex-piloto torturado durante os anos que passou como prisioneiro de guerra no Vietnã, McCain tem a reputação de político íntegro e de convicções. Foi o único candidato a criticar a política agrícola e o programa de etanol dos EUA em Iowa.

Como senador, levantou-se contra a tortura quando o governo Bush caiu na tentação de justificar a prática em nome do combate ao terrorismo. O republicano não se guia pela direita religiosa, que constitui a infantaria eleitoral do partido, e é progressista em matéria de imigração, tema que outros candidatos conservadores já escolheram como arma de campanha contra os democratas.

Essas posições o tornam um candidato atraente para os eleitores independente e para os republicanos moderados. É incerto, porém, se o impulso que McCain ganhou em New Hampshire será suficiente para ele assumir e manter a dianteira até a convenção nacional de Minneapolis-Saint Paul, nos primeiros dias de setembro.

O significado político da proeza eleitoral conseguida por Hillary em New Hampshire, de recuperar-se de um humilhante terceiro lugar nas prévias de Iowa e virar um jogo que até seus conselheiros davam por perdido horas antes do encerramento da votação, foi amplificado pelo favoritismo que as pesquisas de opinião atribuíram, equivocadamente, a Obama.

Ela venceu por duas razões principais. Sua bem financiada campanha mobilizou o voto feminino, que é majoritário em New Hampshire e em todo o país. Igualmente importante, ela mostrou que é a mais preparada dos candidatos num debate que travou com seus rivais democratas, na noite de sábado, e - mais importante ainda - conseguiu estabelecer uma conexão emocional com os eleitores ao explicar numa reunião com mulheres, quase às lágrimas, suas razões para perseverar diante do que parecia ser um empreendimento fadado ao fracasso.

Essa exibição de vulnerabilidade ajudou a humanizar o perfil de Hillary, que não tem o carisma de seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, e adotara uma presunçosa estratégia baseada na noção da inevitabilidade de sua candidatura à presidência.

A quantidade e as regras das duas dúzias de prévias programadas para as próximas três semanas favorecem Hillary. Sua máquina eleitoral é superior à de Obama e ela está mais preparada do que o senador de Illinois para fazer campanha simultaneamente em vários Estados do vasto território americano.

Uma segunda vantagem de Hillary é que nas próximas primárias apenas os eleitores registrados como democratas podem votar. Isso limita o espaço para o crescimento de Obama, que é o democrata que mais atraiu os votos dos independentes nas prévias abertas, como as de Iowa e New Hampshire .

A reafirmação da força eleitoral da senadora de Nova York entre seus partidários dá-lhe a oportunidade para rever sua estratégia e recalibrar sua mensagem. Não significa, contudo, que ela conseguiu conter o formidável fenômeno político em que o carismático Obama se transformou, nas últimas semanas, com sua inspiradora mensagem de mudança.

O jovem senador está bem posicionado para retomar a dianteira na disputa de delegados à convenção nacional, marcada para agosto, nas duas próximas prévias democratas, no dia 19. Em Nevada, Obama conseguiu o endosso do influente sindicato dos trabalhadores do setor culinário de Las Vegas. Na Carolina do Sul , pelo fato de 50% dos eleitores democratas serem negros. Serão eles que definirão quem chegará embalado às 22 primárias marcadas para o dia 5, a decisiva Superterça: a primeira mulher ou o primeiro negro e filho de imigrante a disputar a Casa Branca com chances reais de vitória.

* Paulo Sotero, jornalista, é diretor do Brazil Institute, do Woodrow Wilson International Center for Scholars

PESQUISAS

33% é o índice de intenção de votos nacional de Hillary Clinton e Barack Obama, que estão empatados, segundo pesquisa divulgada pelo instituto Gallup no dia 6

25% das intenções de voto tem o ex-governador do Arkansas Mike Huckabee, que lidera nacionalmente a corrida republicana, de acordo com a mesma pesquisa

47% dos votos seriam dados a Hillary, num eventual confronto com Huckabee, que teria 38%, segundo pesquisa da Fox News

44% dos votos seriam dirigidos a Obama num eventual confronto com Huckabee, que teria 35%, de acordo com a mesma pesquisa da Fox News

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