Título: Ildo Sauer avisou Rondeau para fazer correções
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2008, Economia, p. B4
Em carta, o então ministro foi alertado para a possibilidade de crise
O ex-diretor de Gás e Energia da Petrobrás Ildo Sauer advertiu, no dia 14 de novembro de 2006, por meio de carta, o então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, para a necessidade de correções no setor elétrico. Sauer deixou a estatal no ano passado, especialmente por causa de divergências com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
No texto de 32 páginas, ao qual o Estado teve acesso, Sauer diz que, embora a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) tenham assegurado que estava plenamente contratada a demanda de energia até 2010, havia manifestações de agentes econômicos de que ¿haveria desequilíbrio entre oferta e demanda no médio prazo¿.
Procurado pelo Estado para falar do caso, Sauer disse que o que tinha a declarar estava na carta. No diagnóstico feito por uma equipe da Petrobrás, Sauer adverte que os pontos relevantes exigiam investigação do ministério em razão das conseqüências para a estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Segundo ele, havia, pelo lado da demanda, ¿indícios de descasamento entre os balanços físicos e os contratos de consumidores livres, de comercializadores e autoprodutores¿. O texto destaca que a garantia de expansão adequada de oferta para o equilíbrio do SIN pressupõe a comprovação da contratação de energia, num ¿horizonte mínimo de cinco anos¿, pelas distribuidoras, pelos consumidores cativos, autoprodutores e consumidores livres.
Para o diretor da Coordenação de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, boa parte dos problemas de produção de energia é causada pela ¿inadequação do modelo energético nacional em relação aos consumidores livres¿, formados por grandes empresas, que, segundo ele, adquiriram de 25% a 30% da energia do País.
Segundo ele, essas companhias deveriam adquirir eletricidade de produtores independentes. Nos últimos anos, disse ele, os consumidores livres começaram a comprar eletricidade por preços muito baixos, por intermédio de empresas comercializadoras, de ¿forma imprevisível e não transparente¿.
Ildo Sauer destacou ainda, na carta a Rondeau, que o ¿desequilíbrio temporário¿ entre oferta e demanda, provocado pelo fim do racionamento em 2002 e a liberação da energia dos contratos iniciais, à razão de 25% ao ano a partir de 2003, sem a respectiva obrigação de recontratação, ¿permitiu o surgimento de movimentos oportunistas e especulativos por parte de comercializadores e consumidores livres, provocando uma transferência econômica de geradores descontratados para esses¿.
Segundo Sauer, analistas avaliaram, na época, que o valor dessas transferências atingiu ¿montante superior a R$ 5 bilhões¿ entre 2003 e 2006, uma situação que desestimula investimentos no setor.
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