Título: Sem chuva, preço da energia no atacado sobe 20% em uma semana
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2008, Economia, p. B4
Aumento fez preço do megawatt/hora atingir R$ 569,59. No último ano, alta acumulada foi de 3.138%
Alaor Barbosa
O preço de referência de energia elétrica no mercado atacadista subiu 20,3% para os negócios a serem realizados na próxima semana, em relação a esta semana, atingindo R$ 569,59 por megawatt/hora (MWh). O valor é o máximo previsto para esse mercado, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A alta reflete a falta de chuvas nas últimas semanas.
No último ano, a alta foi de 3.138%. Em igual período do ano passado, os preços no atacado estavam em R$ 17,59 por MWh, em R$ 16,92 em 2006, R$ 18,33 em 2005, R$ 17,58 em 2004 e apenas R$ 4,00 em 2003, o que mostra que o volume de água nos reservatórios é o mais baixo dos últimos cinco anos.
As chuvas no Sudeste/Centro-Oeste em janeiro estão 52% abaixo da média de 76 anos, período em que o governo faz levantamento do volume de chuvas no País. No Nordeste, o volume está 49% abaixo da média e na Região Norte a situação é a pior entre os 4 submercados, 63% abaixo da média de longo prazo. A Região Sul é a única com situação tranqüila, com as chuvas em 32% acima da média.
A administração do sistema elétrico tende a continuar tensa este ano, na avaliação de fontes do setor, embora o racionamento de energia ainda seja considerado uma opção remota. ¿Pode chover forte nos próximos dois meses, o que permitiria chegar em abril dentro do limite fixado pelo governo, de 68% da capacidade de armazenamento. Mas cada gota de água terá de ser aproveitada¿, complementou o técnico. Se o nível em abril ficar abaixo da meta, o governo deverá manter as térmicas funcionando ao longo do ano, o que tende a encarecer as tarifas de todos os consumidores nacionais no ano que vem.
Os técnicos do governo que acompanham o dia-a-dia do setor notaram uma melhora nos últimos dias. Na quinta-feira, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) interrompeu a transferência de energia elétrica do Sudeste/Centro-Oeste para o Norte, após constatar água suficiente na cabeceira dos rios da região. ¿A água ainda está na cabeceira, mas está a caminho do leito dos rios¿, ilustrou um técnico, prevendo que em breve a Usina de Tucuruí começará a verter (liberar água, sem gerar energia), como ocorre todos os anos por falta de outros reservatórios na região. Nesse período, as chuvas são muito intensas e as turbinas não conseguem aproveitar toda a água.
Outra ¿vitória¿ do setor nas últimas semanas foi a expressiva recuperação do reservatório de Sobradinho, no Nordeste, que chegou a cair para apenas 12% da capacidade máxima de armazenamento. Na quinta-feira, o volume de água em Sobradinho, considerado estratégico para o abastecimento do Nordeste, estava em 19,37% e continua se recuperando. Isso só foi possível com a redução de geração hidrelétrica na região, com o consumo sendo abastecido pelas térmicas e por transferências do Sudeste/Centro-Oeste.
Para as próximas semanas, a maior esperança dos técnicos do setor é o suprimento extra de cerca de 5 milhões de metros cúbicos de gás natural que a Petrobrás deverá bombear do Espírito Santo para o Rio. Se esse gás adicional puder ser alocado integralmente para geração elétrica, o ONS acionará a térmica da Petrobrás em Macaé, no norte fluminense, com acréscimo de 1.000 MW médios.
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