Título: Acordo dificulta venda da Oi a múltis
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2008, Negocios, p. B11

BNDES teria preferência para aquisição da empresa ou para buscar um comprador brasileiro no prazo de 9 meses

O BNDES e os principais sócios do Grupo Oi (ex-Telemar)estão negociando um acordo para evitar que a empresa seja revendida para companhias estrangeiras, após a reestruturação que está sendo feita agora. Na atual reestruturação, os grupos La Fonte, de Carlos Jereissati, e Andrade Gutierrez, de Sérgio Andrade, comprarão a parte de sócios e se tornarão os principais controladores da Oi. Em seguida, a Oi comprará a Brasil Telecom.

Uma das justificativas políticas para a realização do negócio - que implica em mudanças de lei e empréstimos do BNDES aos grupos La Fonte e Andrade Gutierrez - é possibilitar o fortalecimento de um grande grupo nacional para fazer concorrência aos mexicanos da Telmex e os espanhóis da Telefónica. Críticos do negócio dizem, porém, que a Oi poderia ser revendida mais tarde para empresas estrangeiras.

Pelo acordo que está sendo negociado com os sócios da Oi, o BNDES deverá ter um direito de preferência de compra caso a empresa seja renegociada. Além disso, o BNDES teria um prazo para encontrar um investidor nacional caso um estrangeiro faça, no futuro, uma oferta pela Oi.

A exigência do governo é considerada uma condição sem a qual o negócio não sairá, disse ao Estado uma fonte que acompanha as negociações. De maneira simplificada, o banco teria pelo menos nove meses, prazo que pode ainda vir a ser ampliado, para efetivar esse direito de compra e buscar outro parceiro nacional. Ainda que os donos da Telemar venham indicando que estão no negócio para ficar, a idéia é afastar ao máximo o risco apontado por alguns de se repetir o que aconteceu com a AmBev, fruto da união da Brahma e Antarctica, historicamente financiadas pelo banco. Depois da união, a belga da Interbrew entrou no negócio e passou a compartilhar o controle com os sócios brasileiros.

Na prática, deverão ocorrer operações na Oi e na Brasil Telecom ao mesmo tempo. Numa delas, os sócios Andrade Gutierrez e La Fonte vão se consolidar no controle da Telemar, numa operação de até US$ 2 bilhões, basicamente na compra da participação de outros acionistas, dentre eles GP Participações, Opportunity e Citigroup.

Metade destes recursos será em capital próprio e a outra metade será financiada justamente pelo BNDES. O assunto está sendo tratado pelo presidente do banco, Luciano Coutinho, com um grupo de assessores.

Em paralelo, a operadora de telefonia fixa e celular Oi vai adquirir o controle da Brasil Telecom (BrT), representado pela holding Solpart, por R$ 4,850 bilhões. Segundo a mesma fonte, a Oi tem caixa suficiente para a operação e, como é ¿ pouco alavancada¿, pode levantar financiamentos bancários facilmente. As estimativas são de que atualmente o caixa da operadora tenha perto de R$ 6,5 bilhões. Assim, num primeiro momento, a BrT seria uma empresa controlada da Oi. A fusão dos dois negócios numa nova empresa de grande porte, nas mãos de acionistas privados nacionais , se daria em seguida.

Ainda assim, o controle dessa nova empresa também incluirá o BNDES além dos fundos de pensão Previ, Petros e Funcef, fundações do Banco do Brasil, da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal (CEF). Como correm o risco de ficarem diluídos na nova estrutura, os fundos negociam um aumento no capital do novo negócio, via compra de uma parte da fatia acionária do BNDES, além de direitos dentro do acordo de acionistas, como quórum qualificado para determinadas decisões.

Para alguns analistas, o direito de preferência em caso de oferta externa pode ser insuficiente. Uma analista disse que existirá sempre o risco de o BNDES não encontrar um sócio para ¿salvar¿ a Oi de uma oferta internacional. Ele reconhece que um ativo deste porte poderá despertar o interesse dos grandes grupos internacionais. A outra alternativa aventada dentro do governo é a criação de uma ¿golden share¿, com direito de vetar decisões, um antídoto considerado mais amargo.

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