Título: Garantias do governo não convencem Fiesp
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2008, Economia, p. B3
Entidade inicia ofensiva para saber a real situação da energia e, se for o caso, vai propor racionalização
O discurso do governo federal ainda não convenceu o setor industrial de que o País está livre de uma crise energética este ano. Por isso, a partir desta semana, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) deve reforçar uma ofensiva para entender a real situação.
¿Precisamos ter informações mais precisas do que está ocorrendo e se há risco de termos algum tipo de problema¿, afirma o diretor do Departamento de Infra-Estrutura da entidade, Saturnino Sérgio da Silva.
Segundo ele, a intenção é adotar medidas paliativas para evitar um sofrimento maior no futuro, como o que ocorreu em 2001. ¿Hoje poderíamos fazer uma redução ordenada e voluntária. Não da forma como ocorreu no último racionamento, dentro da imposição.¿ O executivo afirmou que pretende se reunir com os governos estadual e federal para apresentar medidas de contenção, seja na área de energia ou de gás.
Outros especialistas também defendem a antecipação de medidas para evitar o pior, neste ou no próximo ano. Segundo o diretor da Câmara Brasileira de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, se não houvesse a iminência de uma crise, o governo não teria anunciado, por exemplo, a entrada em operação de 800 megawatts (MW) de térmicas a óleo e a importação de mais 1.000 MW do Sul. ¿Trata-se de um plano B, só que para aumentar a oferta. Pedir para a população conservar energia, na avaliação do governo, soaria como um racionamento.¿
MUDANÇA NO PAPEL
Para Pires, as razões estruturais do racionamento em 2001 são as mesmos de hoje. ¿É um mix de falta de chuva e de investimento insuficiente para ampliar a oferta.¿
Ele observa que a matriz energética mudou, mas apenas no papel. Hoje há termoelétricas, mas não há gás. ¿As plantas de regaseificação de GNL (gás natural liqüefeito), por exemplo, já poderiam estar prontas; faltou investimento.¿
Na avaliação dele, o País terá de continuar elevando a geração térmica na matriz elétrica. Mas é preciso diversificar. ¿Não podemos ficar reféns da água e do gás. Temos de construir usinas movidas a carvão, a bagaço de cana e tudo o que for possível para diminuir o risco.¿
Além disso, completam os especialistas, quase todas as novas hidrelétricas não têm reservatórios, o que significa que o sistema estará cada vez mais dependente do volume pluviométrico.
O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Adilson de Oliveira diz que o País precisa lembrar das experiências anteriores para não cair nos mesmos erros. Hoje, afirma, o setor elétrico vive a mesma situação de 1999.
¿Na época, vários especialistas alertaram para o risco de racionamento. O governo se apressou para lançar o Programa Prioritário das Termoelétricas, mas bastou começar a chover para deixar os projetos de lado.¿
Entre 2000 e 2001, houve uma estiagem e o governo relançou o programa, só que tarde demais, acrescenta o professor.
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