Título: Economia surpreende. Os economistas
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2008, Economia, p. B10
Resultados confirmam desacerto da maioria das estimativas para 2007, a começar pelo crescimento do PIB
¿Prognóstico, só depois do jogo.¿ Essa é a frase que, reza a lenda, o zagueiro Ananias, do Santa Cruz do Recife, cunhou nos anos 50, quando perguntado sobre qual resultado previa para uma das partidas do seu clube. Talvez os economistas devessem dar ouvido a Ananias, a julgar pelo fiasco da grande maioria das previsões sobre a economia brasileira nos últimos anos, em especial em 2007.
No início do ano passado, a média das previsões do mercado e das consultorias indicava que o Produto Interno Bruto (PIB) teria um crescimento medíocre (comparado a outros emergentes) de 3,4%. Em compensação, o IPCA ficaria em 4%, a uma confortável distância de 0,5 ponto porcentual da meta oficial de 4,5%. Na área externa, o câmbio ¿supervalorizado¿ de R$ 2,23 previsto para o fim de 2007, e mais a queda dos altíssimos preços das commodities, reduziriam o ritmo de crescimento das exportações, que atingiriam US$ 143,4 bilhões.
Como as importações cresceriam para US$ 105,3 bilhões, o saldo comercial no ano seria de US$ 38,16 bilhões, recuando em relação aos US$ 46,5 bilhões de 2006. Os investimentos diretos estrangeiros, finalmente, chegariam a US$ 16 bilhões.
Neste início de 2008, fica claro o desacerto daquelas previsões. O PIB de 2007 deve crescer 5,2% (a média da última rodada de projeções), e a inflação quase bateu na meta, chegando a 4,46%.
É no setor externo, porém, que a realidade pregou a maior peça nos economistas. O câmbio fechou 2007 em R$ 1,77, ou espantosos 21% abaixo da previsão média do mercado no início do ano. Ora, diante de uma sobrevalorização tão radical, era de esperar que a prevista desaceleração do crescimento das exportações atingisse tons dramáticos. No entanto, as vendas externas fecharam 2007 em US$ 160,6 bilhões, 12% acima do que previa o mercado com a hipótese de o dólar valer R$ 2,20 no fim do ano.
Mas, contando com a sorte de que as importações chegaram a US$ 120,6 bilhões, 14,5% acima do que o mercado previa no início de 2007, os economistas podem ao menos gabar-se de que o saldo comercial de US$ 40 bilhões não ficou tão longe assim da projeção de US$ 38 bilhões. O investimento direto, porém, humilhou: a última projeção do ano já estava em US$ 33,3 bilhões, o dobro da previsão média do início de 2007.
Os economistas têm, é verdade, ao menos uma desculpa consistente para justificar o erro generalizado na projeção de crescimento do PIB em 2007: a mudança da série das Contas Nacionais pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início do ano, que mostrou que a trajetória da economia nos últimos anos foi muito diferente do que estava oficialmente retratado.
¿A revisão do PIB não só colocou a taxa de crescimento num nível superior, mas também mostrou um filme da economia diferente, em que ela estava acelerando, em vez de estar em um ritmo estagnado, como aparecia antes¿, diz Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Pessôa está entre os especialistas que admitem ter sido surpreendidos pela economia brasileira em 2007. ¿Eu achava que o potencial de crescimento do PIB era de 3%, e hoje acho que é de 4,5%.¿ O potencial de crescimento é quanto a economia pode crescer sem desequilíbrios inflacionário ou externo.
Além das dificuldades relativas à mudança da série do IBGE, Pessôa aponta, pelo lado das surpresas do mundo real, o prognóstico do economista Aloísio Araújo, da FGV-Rio, no início de 2007, em entrevista ao Estado. Araújo previu que o crescimento poderia atingir os 5% almejados por Lula, e uma das causas de aceleração que, a seu ver, estavam sendo subestimadas pelo mercado, era o efeito de reformas estruturais iniciadas por Fernando Henrique e muito aprofundadas na gestão de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda, especialmente na área de crédito.
¿A Lei de Falências e todas as mudanças que permitiram a reativação do mercado de crédito tiveram um impacto muito grande sobre o crescimento¿, analisa Pessôa.
Links Patrocinados