Título: Não se governa bem o sistema sem especialistas
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2008, Nacional, p. A5

Lobão afirma que ouvirá permanentemente os técnicos, que serão convocados a ajudar seu trabalho como ministro

Indicado ministro de Minas e Energia, mas alvo de especulações sobre sua competência técnica para enfrentar a ameaça de apagão, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) tenta tranqüilizar os que estão insatisfeitos com sua chegada ao cargo e promete cercar-se de especialistas da área energética. Lobão deixa claro que não alimentará nenhuma desavença, sobretudo com duas ministras: Dilma Rousseff, da Casa Civil - que reclamou do critério político no preenchimento da pasta e preferia manter no ministério o interino Nelson Hubner -, e Marina Silva, do Meio Ambiente, pasta com a qual mantém velhas divergências, qualquer que seja o ocupante.

O senador chega ao comando do ministério, vago desde maio, graças ao apoio de caciques do PMDB, sobretudo do senador José Sarney (AP), de quem é um dos aliados mais fiéis. Ele se filiou ao maior partido da base aliada do governo no início de outubro, após ter construído uma carreira política no PFL, atual DEM. Lobão foi duas vezes deputado federal, governou o Maranhão de 1991 a 1994 e está no terceiro mandato no Senado. Jornalista e advogado, será substituído no mandato pelo filho e suplente, Edison Lobão Filho (DEM-MA), que está sendo investigado pelo Ministério Público do Maranhão pela suspeita de ser sócio oculto da distribuidora de bebidas Itumar, que teria sonegado R$ 42 milhões em 2000.

Em um momento em que já se admite a possibilidade de um novo apagão elétrico no País, o que o levou a aceitar o cargo de ministro de Minas e Energia?

A indicação do meu nome pelo PMDB, o convite do presidente da República e a disposição que tenho de servir ao meu País.

Como o senhor recebeu manifestações atribuídas à ministra Dilma Rousseff de que o comando do ministério caberia melhor a alguém do próprio setor, com mais experiência na área?

Ouvindo permanentemente os técnicos. Eles serão ouvidos e convocados a ajudar. Não se governa bem o sistema energético brasileiro sem a presença participativa de especialistas.

Não são constrangedoras denúncias que estão sendo feitas contra seu filho?

São denúncias oportunistas pelo fato de eu estar sendo indicado pelo meu partido para exercer um cargo ministerial. Quanto ao mérito das denúncias, já foram devidamente explicadas pelo sr. Edison Lobão Filho.

Quais as primeiras medidas que o senhor pretende adotar no cargo?

Creio que a primeira providência será reunir-me com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Comitê do Setor Elétrico para inteirar-me dos planos estratégicos por eles recomendados. É claro que todos nós devemos ter preocupações com a hipótese de queda acentuada dos reservatórios das hidrelétricas. Mas desde logo está em funcionamento preventivo parte das termelétricas. Se necessário, outras poderiam também ser acionadas. Convém lembrar que temos 6 mil megawatts desativados em térmicas que poderão entrar no sistema de utilização do gás. A energia do Sul neste momento está contribuindo para as necessidades do Nordeste, onde as chuvas não foram suficientes. Em 2001, isso não foi possível porque o sistema era insuficiente. Hoje, sim, graças ao linhão de Curitiba a São Paulo e o outro interligando o Sudeste, o Norte e o Nordeste. O ministério, a Petrobrás, o grupo Eletrobrás e outras geradoras possuem um corpo técnico de reconhecida competência e há um planejamento de médio e longo prazos de construção de novas usinas. Vamos coordenar tudo isso para que as inteligências se somem em benefício das melhores soluções.

O senhor está preparado para o embate com o Ministério do Meio Ambiente por conta da resistência do Ibama em conceder licenciamento ambiental para construção de hidrelétricas?

Todos nós, brasileiros, somos responsáveis pelo meio ambiente. É, portanto, nosso dever contribuir para sua preservação. Mas é dever igual não impedir o progresso do País, a geração de empregos, de riquezas, do bem-estar social. O sistema energético é a locomotiva. Se por alguma razão ela for contida, todos os vagões estancarão. Sou amigo da ministra Marina Silva e tenho fundadas razões para acreditar que nos daremos bem nessa relação dos melhores interesses nacionais.