Título: Parentes pedem envio de médicos para tratar reféns
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2008, Internacional, p. A10

Situação precária de cativos das Farc causa preocupação; Uribe diz estar buscando modo de enviar missão à selva

O ex-senador colombiano Jorge de Gechem teve vários pré-enfartes, dores nas pernas impedem o coronel Luis Mendieta de caminhar e a ex-deputada Gloria Polanco não tem acesso aos remédios que precisa tomar para uma disfunção da tireóide. Uma das principais preocupações dos parentes de oito reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que receberam provas de vida dos cativos na terça-feira é o precário estado de saúde em que eles se encontram.

Por isso, uma das reivindicações feitas ontem por alguns deles foi a de que a guerrilha recebesse uma equipe médica, ligada à Cruz Vermelha ou a outra organização. ¿Seria uma iniciativa importante, embora o melhor, sem dúvida, seria que todos fossem libertados¿, disse o filho de Gloria Polanco, Jaime Felipe Lozada.

Para Alfredo Rangel, diretor da fundação Segurança e Democracia, em Bogotá, a comunidade internacional deve pressionar a guerrilha a aceitar a proposta. ¿Seria o mínimo que as Farc poderiam fazer, porque que as condições degradantes descritas nas cartas já podem ser consideradas tortura.¿

O presidente colombiano, Álvaro Uribe, disse ontem que busca um modo de enviar uma missão humanitária para tratar os reféns. ¿Em dezembro, o governo propôs que uma missão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha entrasse no local onde estão os cativos, para evitar que a saúde deles se deteriore ainda mais.¿ Mas o alto comissário de Paz da Colômbia, Luis Carlos Restrepo, disse que as Farc não permitem que médicos entrem na selva. ¿Reiteramos (as propostas) há poucas semanas, mas as Farc as rejeitaram.¿

Na selva, os reféns têm de dormir ao relento, muitas vezes presos por correntes. Eles comem mal, são obrigados a fazer longas caminhadas e sofrem com doenças tropicais. O medo dos parentes é que seus pais, mães, filhos e cônjuges tenham o destino do capitão Julián Ernesto Guevara, refém das Farc que morreu há um ano de uma doença não identificada. ¿O que mais me dói é pensar que ele morreu sozinho, sem que ninguém pudesse ajudá-lo, ficar a seu lado¿, disse ao Estado Emperatriz Guevara, mãe do capitão, que recebeu numa das cartas um relato da morte do filho.

Nas cartas e fotos trazidas pela ex-refém Consuelo de Perdomo, libertada há uma semana, os cativos descrevem seus sintomas e pedem que os parentes consultem um médico para saber como podem ser tratados. O ex-governador Alan Jara mostra um gânglio no pescoço, na esperança de que sua mulher diga do que se trata, em programas de rádio que os reféns podem ouvir na selva. Já Gechem instrui sua mulher a pedir ¿de joelhos¿ ao líder cubano, Fidel Castro, que o ajude a ser transferido para a ilha como ¿prisioneiro de guerra¿ para ser tratado.

Capturado em novembro de 1998, Mendieta relata que sua saúde está piorando e conta ter visto a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt muito mal. ¿Meu filho teve malária e está com problemas nos rins¿, disse ao Estado Maria del Carmen de Donato, mãe do capitão William Donato. ¿Eu me preocupo porque não sei quanto tempo mais ele poderá resistir.¿

MÁS CONDIÇÕES

Luis Mendieta - Militar. Tem constante dor no peito e leishmaniose. Não pode caminhar: as pernas estão inchadas e escureceram

Jorge E. Gechem - Ex-senador. Teve vários pré-enfartes. Tem problemas gástricos e na coluna

William Donato - Militar. Tem problemas nos rins e uma alergia dificulta sua respiração

Enrique Murillo - Militar. As articulações estão inchadas e queixa-se de dor nos pés

Gloria Polanco - Ex-congressista. Tem problemas de tireóide e não consegue receber medicamentos

Arbey Delgado - Militar. Teve malária e agora sofre de vários problemas gástricos

Orlando Beltrán - Ex-congressista. Tem hipertensão e passa muito mal quando não consegue tomar remédios para isso

Alan Jara - Ex-governador do Departamento de Meta. Sente-se muito mal, mas não se conhece a causa desse mal-estar. Teve malária