Título: Bush encerra viagem com poucos avanços
Autor: Perez, Angela
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2008, Internacional, p. A14

Israel e palestinos começam a discutir questões-chave, mas países do Golfo rejeitam pressão para isolar o Irã

O presidente americano, George W. Bush, encerrou ontem uma viagem de oito dias ao Oriente Médio com uma breve visita ao Egito. Num encontro com o presidente egípcio, Hosni Mubarak, no balneário de Sharm el-Sheikh, Bush disse esperar que o Egito dê passos em direção à democracia. No entanto, evitou criticar diretamente o governo Mubarak - que, mesmo sendo condenado por violações dos direitos humanos, recebe anualmente uma ajuda de US$ 2 bilhões dos EUA.

Num discurso sobre democracia feito no domingo em Abu Dabi, Bush também não mencionou o Egito, mas o recado foi claro. ¿Não se pode obter confiança quando se realiza eleições e os candidatos da oposição estão presos¿, afirmou. ¿Não se pode erguer uma nação moderna e segura quando não se permite às pessoas expressar suas críticas legítimas.¿ Como as monarquias no Golfo Pérsico não deram indícios de que estejam dispostas a deixar o poder, Bush limitou-se a elogiar as pequenas reformas na região, como as eleições parlamentares de 2006 em Bahrein, no Kuwait e nos Emirados Árabes, alguns dos países visitados pelo líder americano.

A maior viagem de Bush pelo Oriente Médio terminou com a retomada das negociações sobre questões-chave entre palestinos e israelenses, mas sem nenhum acordo prático. Em sua primeira visita a Israel e à Cisjordânia como presidente, Bush adotou um tom duro com o governo israelense e disse que já é hora de pôr fim a 40 anos de ocupação da Cisjordânia. Também pressionou por uma solução para a questão dos refugiados palestinos e propôs uma compensação financeira.

Mas, enquanto Bush pressionava o premiê israelense, Ehud Olmert, a conter a expansão dos assentamentos judaicos, novas casas para israelenses começavam a ser construídas em um bairro palestino de Jerusalém Oriental. Quatro dias após Bush deixar Jerusalém, Israel lançou uma grande ofensiva na Faixa de Gaza, matando 19 palestinos na terça-feira.

Para Steven Cook, analista do Council on Foreign Relations, a visita de Bush à região foi ¿apenas cosmética¿ e ¿as conversações de paz devem sofrer reveses¿ assim que o presidente voltar para casa.

¿Como Bill Clinton, Bush tentou dar um impulso às negociações de paz antes de deixar o cargo. Mas o problema é que houve uma contradição em sua visita à região. Advertir constantemente sobre a ameaça iraniana e tocar os tambores da guerra é desviar-se bastante dos esforços de paz¿, disse ao Estado Ahron Bregman, especialista em Oriente Médio do Kings College, de Londres.

Bush buscou o apoio de países do Golfo para sua política de isolamento do Irã, a quem acusou de ser o maior patrocinador do terrorismo e uma ameaça à região. Ele alertou que o Irã sofrerá graves conseqüências se atacar navios americanos na região. Segundo os EUA, lanchas iranianas ameaçaram explodir navios americanos no Estreito de Ormuz na semana passada. O Irã nega.

¿Os países árabes ouviram polidamente o que Bush tinha a dizer, mas cada um manterá sua posição¿, disse Bregman. A Arábia Saudita e o Kuwait rejeitaram as pressões de Bush para isolar o Irã. Riad assinalou que não tem nada contra Teerã e a república islâmica é um bom vizinho. O Kuwait, um dos principais aliados árabes dos EUA, também prometeu manter boas relações com o Irã.

¿A Arábia Saudita busca não provocar o Irã, pois, como outros países do Golfo, compartilha as preocupações dos EUA¿, disse Bregman, lembrando que o governo saudita convidou o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, para a peregrinação a Meca, em dezembro, e o Catar para a reunião do Conselho de Cooperação do Golfo. ¿É improvável que eles abandonem os esforços para manter relações razoáveis com o Irã somente para agradar a um presidente americano em fim de mandato.¿

Apesar de não cederem às pressões dos EUA, os países do Golfo fecharam com Washington um acordo de US$ 20 bilhões para a compra de armas. Segundo Bregman, ¿Bush realmente acredita que o Irã é uma ameaça ao mundo e a venda de armas é um elemento-chave em sua estratégia para reforçar a defesa contra Teerã¿.