Título: Com fuga de estrangeiros, bolsa atinge menor nível em 4 meses
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2008, Economia, p. B3
Neste ano, investidor externo já tirou R$ 1,87 bilhão da Bovespa Puxado pela saída de investidores estrangeiros, que estão cada vez mais cautelosos diante do risco de recessão nos Estados Unidos, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) caiu ontem 1,89% e atingiu o nível mais baixo desde setembro do ano passado. Neste ano, a perda acumulada do Ibovespa já chega a 8%.
A percepção dos estrangeiros é de que a economia dos países emergentes deve ser afetada pela crise americana. Prova disso é que, só no pregão de sexta-feira passada, a Bovespa registrou fuga de capital externo de R$ 310,450 milhões. Desde o início do ano, a saída de recursos estrangeiros já atingiu R$ 1,877 bilhão.
Além do temor dos estrangeiros, a queda da Bovespa reflete a onda de turbulências no mercado acionário americano. Há um número expressivo de papéis de empresas brasileiras negociados na Bolsa de Nova York. Entre elas, Petrobrás e Vale. O Brasil é o segundo maior negociador de recibos de ações na bolsa americana, atrás apenas do Canadá.
¿Se a Bolsa de Nova York cai, acaba arrastando a cotação dos papéis brasileiros¿, observa Roberto Teixeira da Costa, sócio fundador da consultoria de relações internacionais Prospectiva. ¿Por efeito demonstração, isso acaba contaminando as cotações dos papéis dessas empresas aqui no Brasil e o Ibovespa segue a mesma tendência de queda.¿
Na avaliação de Roberto Padovani, estrategista do Banco WestLB, os mercados mundiais ainda não assistem a uma reversão de ciclo em que os preços dos ativos se desvalorize de forma acentuada. ¿O ponto central é que falta informação para definir cenários de médio prazo e o humor dos investidores fica ao sabor das informações do dia-a-dia, o que provoca essa volatilidade dos mercados.¿
Os países emergentes, como o Brasil, não estariam protegidos do estresse financeiro desencadeado pela crise americana, alertam alguns analistas, referindo-se à tese de ¿descolamento¿ dos emergentes. Para Philip Poole, chefe de pesquisa em mercados emergentes do HSBC, alguma forma de contágio é inevitável.
¿Há argumentos a favor do descolamento, mas o cenário quase perfeito de descolamento que estava sendo precificado pelos ativos e moedas emergentes era exagerado¿, diz Poole.
Segundo ele, boa parte dos países emergentes está em um caminho diferente dos Estados Unidos. ¿Mas a economia americana tem sido a fonte dominante da demanda global por tanto tempo que, se seu ritmo de atividade realmente afundar, então as economias emergentes serão atingidas tanto no ângulo do comércio como no apetite por risco.¿
Para o economista-chefe para a América Latina do Banco ABN Amro, Alexandre Schwarstman, o efeito direto na economia real do Brasil de uma recessão americana seria muito pequeno. ¿O Brasil é uma economia muito fechada e as exportações para os Estados Unidos representam algo como 2,2% do nosso PIB (Produto Interno Bruto).¿ Para ele, o risco é a desaceleração americana derrubar o preço das commodities, que têm garantido o bom desempenho da balança comercial do País.