Título: Para o FMI, crise das hipotecas pode se agravar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2008, Economia, p. B3

Instituição avalia que alguns agentes do mercado ainda não mostraram o montante de suas perdas

A crise das hipotecas de segunda linha dos Estados Unidos (subprime) deve criar problemas mais sérios do que se previu até agora. A razão é que nem todos os agentes do mercado foram transparentes em relação as suas perdas, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

¿Algumas análises com base em suposições conservadoras sugerem que as perdas podem ser maiores e injeções adicionais de capital são prováveis¿, escreveram os economistas Manmohan Singh e Mustafa Saiyid em um relatório do FMI. ¿Muitos bancos nos EUA ainda não marcaram seus ativos para preços reais de transações.¿

Alguns agentes do mercado ¿foram transparentes, como alguns fundos hedge dos EUA, que anularam o valor de todos os papéis emitidos por seus veículos estruturados¿, diz o relatório.

A turbulência nos mercados globais, iniciada em 2007, em meio ao aumento da inadimplência nas hipotecas subprime dos EUA foi, em parte, resultado da falta de medidas apropriadas para avaliar o risco de novos produtos financeiros.

As hipotecas subprime - empréstimo imobiliário concedido a pessoas com pobre histórico de crédito - foram empacotadas em ativos estruturados, como obrigações de dívida colateralizada, os CDOs.

Na seqüência do colapso do mercado subprime, em meados de 2007, a preocupação com a exposição dos ativos estruturados à crise provocou o congelamento do crédito, que fez muitos participantes do mercado usarem modelos de avaliação que não mais funcionavam na situação de colapso, segundo o relatório.

Os recentes movimentos das instituições financeiras para trazer os ativos estruturados excluídos, como os CDOs, para o balanço geral não foram ¿transferências de preços¿ explícitas e, portanto, ¿podem não refletir totalmente as perdas potenciais¿.

O relatório do FMI sugere que os participantes do mercado buscam regularmente colocar uma porção de seus complexos ativos estruturados no mercado para obter uma avaliação válida. Alguns ¿dependem cada vez mais dos ratings como uma medida de risco de calote e de forma imprópria os comparam com aquela dívida corporativa mais comum, que tem sensibilidade diferente das condições do mercado¿, segundo o relatório.

De certa forma, o relatório do Fundo responde às críticas formuladas durante a sua assembléia geral, em outubro, por países emergentes. Na época, algumas autoridades observaram que a instituição estava subestimando o problema das hipotecas subprime.