Título: Demanda cresce mais que oferta
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2008, Economia, p. B11

Energia assegurada está 6.400 MW abaixo do previsto A situação do setor elétrico brasileiro não é tão confortável como o governo tem desenhado nas últimas semanas. Estudo divulgado ontem pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) mostra que o País já convive com o descompasso entre oferta e demanda de energia.

Conforme o trabalho, feito com base em relatórios do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a energia assegurada (volume que pode ser vendido em contrato) do País está 6.400 megawatts (MW) médios abaixo do previsto. Trata-se do volume de eletricidade que as usinas podem vender em contrato. No caso de uma hidrelétrica, normalmente o porcentual fica na casa de 60% da capacidade máxima. Isso porque depende da quantidade de água no reservatório, que, por sua vez, é maior ou menor em determinados meses do ano por causa do regime de chuvas da região.

Ou seja, em alguns momentos poderá gerar mais ou menos eletricidade. Por isso, o governo faz uma média do que pode comprometer em contrato sem ter problemas. A geração acima dessa média é negociada no mercado spot (à vista). A Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, por exemplo, tem capacidade para gerar 3.150 MW e sua energia assegurada é de 2.140 MW. Nas térmicas, a energia assegurada depende do combustível e das previsões de manutenção.

Segundo a Abrace, entre 2005 e 2007, houve crescimento de 7,9% na demanda de energia, enquanto a garantia física apresentou redução de 9,4%. Entre as explicações está a indisponibilidade de gás natural para abastecer as termoelétricas. Sem combustível, a garantia física diminuiu.

¿Outro fator é a importação de energia da Argentina, que desapareceu do sistema¿, afirma a diretora-executiva da Abrace, Patrícia Arce. Segundo ela, com a crise energética na Argentina, o País deixou de receber mais de 2 mil MW de energia.

Os cálculos mostram, ainda, que já neste ano a demanda de energia vai ultrapassar a energia assegurada em cerca de 1.700 MW . Em 2009, o déficit seria de 634 MW. ¿Esse cenário expõe do Brasil a uma grande dependência de chuvas para que as usinas possam gerar mais energia do que suas garantias físicas para suprir a demanda nacional¿, diz Patrícia.

Isso não significa que haverá racionamento, mas pode ser um problema para cumprir a lei de que as distribuidoras têm de estar 100% contratadas. Além disso, o mercado livre teme um apagão de contratos e um aumento dos preços como tem ocorrido com o preço à vista.