Título: Dilma pede sigilo em nome da segurança
Autor: Monteiro, Tânia; Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2008, Nacional, p. A6

Ministra negou haver negociação de cargo no setor elétrico para barrar CPI

O Palácio do Planalto fez um apelo ontem ao Congresso para não revelar, em uma eventual CPI dos Cartões, dados de despesas consideradas sigilosas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seus familiares. ¿Não acho que a CPI queira abrir esses gastos. Não acredito que o Congresso queira romper a segurança do presidente¿, disse a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A ministra ficou irritada ao ser indagada se o governo estava negociando cargos no setor elétrico para barrar uma investigação parlamentar. ¿Não somos uma republiqueta de bananas¿, afirmou.

Sempre alegando questão de ¿segurança do chefe de Estado¿, Dilma e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Félix, informaram, em entrevista coletiva, que o governo vai retirar do site Portal da Transparência, mantido pela Controladoria-Geral da União (CGU), os poucos dados disponíveis sobre os gastos do Planalto, do Alvorada e da Granja do Torto.

¿Temos informações no Portal da Transparência que podem levar os grupos que têm desejo de realizar alguma ação hostil a saber exatamente a quantidade de pessoas que trabalham na segurança¿, disse o general. ¿Estamos reavaliando essas informações, e as que, no nosso entender, trouxerem prejuízo à segurança do presidente da República não mais estarão presentes no portal da transparência.¿

LAVANDERIA

Dilma emendou, explicando que dados de lavanderia, por exemplo, podem revelar esquemas de segurança. ¿Há dados que não são admissíveis de serem divulgados. Nós temos o dever de proteger os chefes de Estado e suas famílias e isso significa também proteger seus convidados¿, afirmou a ministra da Casa Civil. ¿Vivemos uma dupla pressão: de um lado, a preocupação com a transparência, de outro, com a segurança. Temos de achar o ponto correto.¿

O general pediu limites. ¿Essa preocupação em tornar algumas coisas públicas tem de ter limites que não prejudiquem a segurança do presidente e das demais pessoas que legalmente devem ser protegidas.¿

Os ministros asseguraram que todos os recursos pagos pelo pessoal de segurança se referiam apenas a gastos com esse setor e não foram empregados em despesas pessoais do presidente da República ou seus familiares.

Dilma reiterou que os saques em dinheiro no cartão de crédito estão proibidos e o governo quer, cada vez mais, fazer pagamentos com cartões. Avisou ainda que a meta é acabar com a conta ¿tipo B¿, usada para pagar despesas com cheque, lastreado pelo dinheiro depositado em conta.

Embora tenha enfatizado que as despesas não podem ser reveladas por questões de segurança, Jorge Félix disse que não havia necessidade, por exemplo, de mudança de endereço da casa alugada em Florianópolis para os seguranças da filha do presidente Lula ou de troca imediata de pessoal. ¿O mais importante não são as pessoas, mas como elas trabalham.¿

AÇOUGUE

Dilma informou ainda que os dados com gastos em açougues e supermercado do presidente Lula foram parar no Portal da Transparência ¿por engano¿ de técnicos do Banco do Brasil durante um processo de transição do sistema.

Dilma e o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, ironizaram reportagens que tiveram como base dados do portal.