Título: Base manobra por CPI que inclua período de FHC
Autor: Rosa, Vera; Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2008, Nacional, p. A7

Jucá recebeu sinal verde do presidente Lula para coletar assinaturas e no fim da tarde protocolou pedido

Numa manobra para neutralizar o bombardeio da oposição, o presidente Lula autorizou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), a coletar assinaturas para abrir uma CPI na Casa sobre as compras com cartões corporativos. Detalhe: a CPI pretende investigar as despesas do governo desde janeiro de 1998 até hoje. O período atinge a administração de Fernando Henrique Cardoso, que assumiu a Presidência em 1994 e criou os cartões em 2001.

No fim da tarde, Jucá obteve 35 assinaturas - 8 a mais que as necessárias - e protocolou o pedido de CPI na Mesa do Senado. Na prática, o governo quer enterrar a CPI dos Cartões que o PSDB tenta instalar, com apoio do DEM. Para articuladores do Planalto, uma CPI da Câmara e do Senado paralisaria o governo neste ano eleitoral. A tática foi optar por uma contra-ofensiva para constranger a oposição e esvaziar as investigações.

Ontem, já na sessão de abertura dos trabalhos do Congresso, Jucá circulava no plenário, buscando apoio de colegas para o pedido de CPI para apuração de ¿eventuais irregularidades¿ no uso de ¿suprimentos de fundos¿, incluindo contas bancárias, cartões de pagamento e saques em espécie. A menção aos ¿suprimentos de fundos¿ foi necessária porque o cartão corporativo só foi criado em 2001.

¿Queremos comparar a série histórica dos últimos 10 anos para discutir os gastos públicos¿, afirmou Jucá, que também foi líder do governo FHC. ¿Vamos mostrar que as tapiocas são iguais: só muda o gosto¿, ironizou, referindo-se à compra de R$ 8,30 com cartão feita pelo ministro do Esporte, Orlando Silva, em uma tapiocaria.

Ao saber que a investigação incluía o governo FHC, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), informou em nota que entrará no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma ação para que o governo informe seu gasto em cartão corporativo quando foi secretário-geral da Presidência de FHC e ¿outra para que sejam abertas todas as despesas efetuadas em cartões corporativos¿. Ele acusou o governo de querer transformar a CPI em pizza. ¿O PSDB não compactuará com nenhuma tentativa de setores governistas de, pretensamente antecipando-se às oposições, propor CPI para transformar em pizza uma investigação sobre o escândalo dos cartões¿, afirmou na nota.

¿Não é manobra, em absoluto¿, rebateu o ministro das Relações Institucionais, José Múcio. De manhã, ele já ligara para Lula, no Guarujá, dizendo que era preciso se antecipar e neutralizar a tentativa da oposição de abrir a CPI dos Cartões.

Depois, Múcio reuniu-se com Jucá e os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento), Franklin Martins (Comunicação Social) e Jorge Hage (Controladoria-Geral da União). ¿O governo pode até fazer uma operação-abafa na Câmara, mas no Senado não tem como evitar a CPI¿, disse Jucá aos ministros. Segundo um dos presentes, todos concordaram que a melhor tática era tomar a iniciativa de abrir a CPI.

Dilma afirmou que não havia o que temer se todos os gastos estavam disponíveis na internet. Jucá disse que nenhum governo gosta de CPI, mas neste caso a ¿nuvem de suspeita¿ era mais nociva do que a investigação. ¿O governo não vai ficar refém desse tipo de ameaça. Quem tiver errado, que pague.¿