Título: Fala de ex-agente uruguaio faz sentido, diz Tarso
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2008, Nacional, p. A11

Ele descartou, porém, versão de que Goulart teria sofrido atentado a mando de Geisel

Elder Ogliari

O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que informações sobre a morte do presidente João Goulart, prestadas na semana passada à Polícia Federal pelo ex-agente uruguaio Mário Neira Barreiro, ¿têm nexos com a realidade¿.

Tarso descartou, entretanto, a versão de que Goulart teria sofrido um atentado ordenado pelo presidente Ernesto Geisel.

¿O próprio depoente praticamente excluiu essa possibilidade, que é mais uma fantasia¿, ressaltou o ministro, durante breve entrevista coletiva ao final do lançamento da Operação Carnaval da Polícia Rodoviária Federal, em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, na noite de sexta-feira.

Neira Barreiro está preso há nove anos na penitenciária de alta segurança de Charqueadas (RS) por tráfico de armas, roubo de carro-forte e falsidade ideológica. Desde 2000 ele tem afirmado, em sucessivas entrevistas, que Goulart foi envenenado a mando do regime militar brasileiro, especificamente do governo Geisel. Oficialmente, a morte de Goulart, em 6 de dezembro de 1976, foi atribuída a um enfarte.

Na semana passada, a pedido de Tarso, a Polícia Federal ouviu o preso uruguaio para ver se há indícios que justifiquem a abertura de um inquérito para investigar o caso.

DEPOIMENTO

O ministro da Justiça ouviu a transcrição do depoimento junto com o diretor-geral do Departamento de Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa.

Embora não tenha entrado em detalhes, Tarso afirmou que a polícia seguirá realizando uma investigação preliminar para checar as informações de Neira Barreiro e, se elas forem verdadeiras, abrir o inquérito.

¿O depoimento tem muita coisa que eu sei que é verdadeira¿, comentou Tarso, referindo-se às descrições que o preso uruguaio fez da vida que Goulart levava no exílio. As informações coincidem, diz o ministro, com o que ele mesmo viu quando passou um mês, também como exilado, na fazenda do presidente no Uruguai na década de 70.

De acordo com Tarso, Goulart não tomava nenhuma precaução para preservar a sua segurança e costumava receber muitos visitantes, com quem negociava gado ou conversava sobre política.

Apesar de entender que há ¿muita coisa real¿ nas declarações de Neira Barreiro, o ministro não chega a relacionar as descrições verossímeis a um suposto atentado. ¿A investigação tentará apurar se esses indícios de realidade poderiam chegar até uma tentativa de assassinato, mas não há nada conclusivo ainda¿, reiterou. ¿Depois disso a Polícia Federal resolve se abre inquérito.¿

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