Título: Comércio exterior e recessão mundial
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2008, Economia, p. B2

Diante dos dados do comércio exterior do mês de janeiro, é normal que se busque avaliar se a conjuntura internacional, ora marcada por um afrouxamento econômico, já se reflete no intercâmbio comercial do Brasil.

Já se destacou que, em relação a janeiro do ano passado, as importações cresceram 45,6% e as exportações, apenas 20,9%. Mas, em relação a dezembro último, houve uma queda de 15,2% nas exportações e um aumento de 5,8% nas importações. É necessário considerar, porém, que, em janeiro de 2007, as exportações haviam acusado redução de 18,9% e em janeiro de 2006 caíram 14,9%, sempre em relação ao mês anterior. E o aumento das importações também não tem nada de anormal, pois em janeiro de 2007 cresceram 6,5%. Estamos, pois, diante de um efeito sazonal.

Se considerarmos as exportações por valor agregado, verificaremos que, em relação a dezembro do ano passado, a média por dia útil caiu 25,6% para produtos básicos, 13,6% para os manufaturados e aumentou 2,3% para os semimanufaturados . Isso parece indicar que o receio de uma recessão levou alguns países a reduzirem fortemente suas importações de produtos básicos e de de produtos manufaturados.

Já a evolução das importações brasileiras se apresenta muito diferente: as importações de bens de capital cresceram 13,3% em relação a dezembro, as de matérias-primas e de bens intermediários, 17,6% e as de bens de consumo duráveis, 6,1%, enquanto os não-duráveis apresentaram queda de 8,7% - um quadro que não sugere medo de recessão da parte do Brasil.

O exame das exportações por países ou blocos mostra uma redução para todos os países industrializados , particularmente significativa para os Estados Unidos, com queda de 21,7% em relação a dezembro, de 18,2% para a União Européia e de 18,4% para a Ásia (sendo 10,6% para a China). Apenas no caso do Oriente Médio houve aumento das exportações, de 14,5%.

Isso, naturalmente, afeta nossa balança comercial em relação aos nossos principais parceiros . Na Ásia temos um déficit de US$ 1,548 bilhão, do qual a China representa mais de 50% . Estamos mantendo um superávit com a União Européia, de US$ 611 milhões, com o Mercosul, de US$ 288 milhões, mas de apenas US$ 2 milhões com os Estados Unidos, que certamente continuarão a reduzir suas importações de produtos brasileiros...