Título: Itamaraty nega que venda ao Irã seja ilegal
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2008, Economia, p. B3

Nota diz que vendas via Dubai não descumprem sanções

O Ministério das Relações Exteriores negou ontem que o Brasil esteja descumprindo duas sanções comerciais impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas contra o Irã. Reportagem do Estado revelou que empresas brasileiras utilizam uma operação de triangulação, via Porto de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para acessar o mercado iraniano.

Em nota, o Itamaraty não negou a informação, mas disse que as vendas de carne e açúcar, seja direta ou indiretamente ao Irã, não configuram descumprimento de resolução da ONU. As sanções decorrem da recusa da República Islâmica do Irã em divulgar o conteúdo do programa nuclear. Há suspeitas de que, contrariamente ao que têm dito as autoridades de Teerã, o programa não teria finalidade pacífica, para a geração de energia elétrica, mas fins militares.

Ontem, o Itamaraty emitiu nota reafirmando a interpretação do governo brasileiro em relação à decisão da ONU.

Diz a nota: ¿O Ministério das Relações Exteriores esclarece que nenhuma resolução do Conselho de Segurança proíbe exportações de açúcar, carne ou quaisquer outros produtos que fazem parte de nossa pauta de exportação para o Irã¿.

O governo brasileiro afirma que as proibições de exportações para aquele país, impostas pela ONU, ¿cobrem somente itens relacionados ao programa nuclear e de mísseis balísticos¿, e complementa: ¿Nos casos de armamentos pesados, vigora a exortação de `vigilância e cautela¿.¿

A interpretação brasileira atende no fundo ao plano de expansão da relação comercial brasileira na região. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, se preparam para uma rodada de visitas ao Golfo Pérsico.

O Brasil quer estreitar a relação comercial com a região e se beneficiar com parte da enxurrada de petrodólares que devem irrigar o desenvolvimento da região neste momento de alta do petróleo.

As exportações aos Emirados Árabes Unidos cresceram mais de 4.000% nos últimos 20 anos, revelam os dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). No ano passado, ingressaram nos Emirados um volume de produtos que rendeu ao Brasil US$ 1,196 bilhão em receitas de exportação. Em 1987, essa receita foi de apenas US$ 28,8 milhões.

Apesar da triangulação, o Brasil também mantém vendas diretas para o Irã, mas ao contrário dos Emirados Árabes o crescimento das vendas nos últimos 20 anos foi menor. Entre 1987 e 2007, a exportação para o Irã cresceu 729,9%, o que elevou as vendas de US$ 221,4 milhões para US$ 1,837 bilhão no ano passado.

Na pauta, milho em grão, óleo de soja, açúcar, chassi com motor para veículos leves e minério de ferro. A lista completa supera os 100 itens, o que inclui ainda autopeças, produtos petroquímicos e celulose.

REAÇÃO

A presença brasileira no Irã já provocou reação dos Estados Unidos. No ano passado, investimentos da Petrobrás em Teerã, feitos em parceria com a espanhola Repsol, foram criticados por diplomatas americanos, que alegaram descumprimento das sanções impostas pela Organização das Nações Unidas.

NÚMEROS

4.000 % foi quanto cresceram as exportações do Brasil aos Emirados Árabes Unidos nos últimos 20 anos

729,9 % foi o crescimento das vendas ao Irã no mesmo período US$ 1,196 bilhão foi a receita de exportações brasileiras aos Emirados em 2007, ante US$ 28,8 milhões em 1987

US$ 1,837 bilhão foi a receita de exportações brasileiras ao Irã, ante US$ 221,4 milhões em 1987