Título: Argentina divulga hoje 1ª inflação do governo Cristina
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2008, Economia, p. B8

Índice oficial pode chegar a 1,5%, mas, para analistas, alta real passa de 2%

O Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) vai anunciar hoje o índice oficial da inflação de janeiro na Argentina, primeiro mês em que o país ficou totalmente sob o comando de Cristina Kirchner, que tomou posse no dia 10 de dezembro. Dados preliminares mostram que o índice deve ficar entre 1,2% e 1,5%, acima da média dos últimos meses.

Segundo analistas, a alta foi provocada pela liberação parcial das tarifas de transporte público e turismo. Se para o governo a inflação está muito alta, driblando todas as estratégias adotadas para controlá-la, para economistas, associações de consumidores e empresários, o índice é ainda maior do que o oficial.

Eles consideram que a inflação real é superior a 2%, podendo chegar a 2,5%. Os opositores sustentam que, em janeiro, a manipulação de dados completou um ano, coincidindo com a intervenção no Indec, durante a gestão de Néstor Kirchner.

Os críticos do governo afirmam que, com a manipulação, a presidente tenta conseguir o efeito psicológico de reduzir o impacto da inflação real na população. Além disso, estabelece um nível para negociações salariais. E, de quebra, paga menos aos credores que têm títulos da dívida pública argentina corrigidos pela inflação.

A tentativa de impor congelamento de preços - ou aumentos controlados - está fracassando. E diversos setores, segundo economistas, estão fazendo reajustes de forma preventiva e antecipada, o que acaba alimentando o aumento de preços.

Para complicar, existem receios sobre os efeitos da crise financeira internacional na Argentina, especialmente nos preço de alimentos. Nas últimas duas semanas os laticínios tiveram altas entre 8% e 10%. A carne bovina ficou 5% mais cara nos últimos sete dias.

A recuperação do consumo, após a crise de 2001/2002, também ajuda a acelerar a inflação. E os sindicalistas já pressionam o governo por aumentos salariais. O líder da Confederação Geral do Trabalho, o caminhoneiro Hugo Moyano, exige que os reajustes tenham piso de 20% este ano. O governo considera que o teto - e não o piso - deveria ser de 20%.

PERCEPÇÃO POPULAR

Em 2007, segundo o governo Cristina, a inflação argentina foi de 8,5%. No entanto, para os opositores, ela entre 18% e 25% e para funcionários dissidentes do Indec, entre 22,3% e 26,2%.

Um estudo feito pelo Centro de Pesquisas em Finanças da Universidade Di Tella indicou que a percepção da população é que a alta de preços no ano passado foi ainda maior, chegando a 33%, o quádruplo da inflação oficial. Para 2008, segundo o relatório, a população já espera uma inflação de 22,6%. O governo acredita que o aumento de preços será inferior a 10%.