Título: Pressão inflacionária
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2008, Notas e Informaçoes, p. A3
Com alta de 4,46% em 2007, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) interrompeu uma tendência de quedas que vinha se registrando desde 2002 (quando subiu 12,53%, variação que se reduziu para 9,30% em 2003, 7,60% em 2004, 5,69% em 2005 e 3,14% em 2006). O que mais pressionou o índice oficial de inflação no ano passado foram os alimentos e bebidas, cujos preços médios se aceleraram ao longo do segundo semestre e mostraram forte tendência de alta até dezembro.
Os alimentos ficaram, em média, 10,79% mais caros e responderam por praticamente a metade (2,21 pontos porcentuais) de toda a inflação do ano. As primeiras pesquisas desses preços feitas em janeiro indicam relativa estabilidade, mas, em compensação, outros preços que tiveram pequena variação em 2007 agora mostram altas aceleradas, o que justifica a cautela da coordenadora dos índices de preços do IBGE, responsável pelo cálculo do IPCA, Eulina Nunes dos Santos, ao falar de suas expectativas para os próximos meses. ¿A inflação deve vir pressionada em janeiro, porque há reajustes importantes e não há perspectiva de recuo dos alimentos¿, diz ela.
Alguns importantes itens da alimentação tiveram altas muito fortes no ano passado. Nas pesquisas de preços feitas regularmente pelo IBGE, o item ¿carnes¿ teve aumento de 22,15%. Por causa de seu peso no orçamento das famílias, esse item foi isoladamente o que mais pressionou a inflação. Em seguida veio o item ¿leites e derivados¿, que subiu 19,79%. Alguns produtos registraram altas espetaculares, como o feijão carioca, que ficou 144,42% mais caro em 2007; o feijão mulatinho, que subiu 136,10%; e a batata inglesa, que teve alta média de 68,61%.
Para os consumidores, o segundo semestre foi pior do que o primeiro. Dos 10,79% de alta dos alimentos, 6,60% ocorreram nos últimos seis meses. O preço do feijão foi o que mais assustou os consumidores nos últimos meses do ano passado. O feijão carioca, que ficara 23,13% mais caro em novembro, aumentou 38,61% em dezembro, mês em que o feijão mulatinho subiu 33,14% (contra 30,8% em novembro) e o feijão preto, 12,47% (10,87% em novembro).
Começam a surgir indicações de que os preços agrícolas não devem continuar subindo nesse ritmo nos próximos meses. Há dias, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, observou que a produção de feijão enfrentou problemas, como a falta de chuvas, e previu que a escassez poderá ser eliminada com a colheita dos próximos meses. Empresas de consultoria, de sua parte, registram estabilidade e até queda de preços de alguns produtos, como batata, carne suína, tomate e ovos.
A desaceleração dos preços das commodities agrícolas foi detectada com maior clareza na primeira prévia de janeiro do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), calculado pela FGV. Os preços no atacado de produtos bovinos, que tinham subido 8,86% na primeira prévia de dezembro, em janeiro registraram redução de 4,76; no caso do milho em grão, a mudança foi de uma alta de 13,83% para queda de 1,93%; e, no do feijão em grão, que tanto afetou o orçamento das famílias nos últimos meses, de uma alta de 33% em dezembro para queda de 2,87% em janeiro. ¿Em grande parte, as elevações de preços em dezembro foram repiques muito fortes, mas de curta duração¿, na avaliação de Salomão Quadros, da FGV.
No início do ano passado, muitos economistas previam que a meta de inflação (que utiliza o IPCA como referência) de 4,5% para 2007 seria cumprida com folga e recomendava ao governo que a reduzisse. A inflação ficou praticamente no centro da meta, o que, em tese, dá força à política antiinflacionária do governo. Mas o que os números mostram é um cenário indefinido, com a alta do IPCA no ano passado, o surgimento de pressões altistas, que podem anular o efeito da relativa estabilização dos preços dos alimentos, e, sobretudo, a ação do governo. O afrouxamento da política fiscal - visível no desinteresse do governo em definir concretamente os meios adequados para compensar a perda da arrecadação da CPMF - pode agravar a situação.
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