Título: Lula espera pedido de demissão
Autor: Monteiro, Tânia ; Nossa, Leonêncio
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2008, Nacional, p. A7

Auxiliares próximos da ministra da Igualdade Racial afirmam que ela pode anunciar saída do cargo ainda hoje

Tânia Monteiro e Leonêncio Nossa, BRASÍLIA

A situação da ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, suspeita de uso irregular do cartão de crédito corporativo da Presidência, é insustentável, segundo dois ministros ouvidos ontem pelo Estado. Eles disseram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pretende demitir a ministra, mas aguarda seu pedido de demissão. A demora de Matilde em dar explicações sobre os gastos é considerada um agravante. A avaliação é de que, sem deixar o cargo - o que é considerado um desfecho praticamente irreversível -, ela alimenta uma crise que constrange todo o governo.

Apesar do desgaste e da pressão por sua saída, Matilde despachou durante todo o dia de ontem na secretaria. Segundo sua assessoria de imprensa, ela cumprirá agenda normal hoje, também com despachos internos. Mas auxiliares próximos afirmam que a ministra pode anunciar sua demissão até o fim do dia.

Questionado sobre a situação de Matilde, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, tentou despistar e afirmou que ¿todos estão torcendo por explicações¿ da ministra. Múcio disse que é cedo para fazer julgamentos e alegou não ter conhecimento detalhado do que aconteceu. ¿Ela vai se explicar. Sei que cabem explicações. Ruim é o que não se explica. Desde que a ministra explique, não há problema. Acho que todos estão torcendo por explicações¿, declarou.

SEM SAÍDA

A avaliação no Planalto é de que não há saída para Matilde. Ela poderia até resistir mais alguns dias, mas passado o carnaval a Controladoria-Geral da União (CGU) terá concluído seu trabalho de avaliação dos comprovantes de despesa que ela apresentou e a condenará por irregularidade. Mesmo que a CGU considere que não tenha havido má-fé, a ministra terá de assumir o erro cometido e será obrigada a deixar o cargo, para evitar problemas maiores para o governo no Congresso.

Múcio argumentou que alguns ministros não usam ou podem não saber utilizar os cartões. Ele reiterou que o anúncio das novas regras, divulgadas ontem teve o objetivo de esclarecer dúvidas e dar transparência no uso dos cartões corporativos do governo. Para o ministro, a divulgação das regras vai permitir que ¿essa discussão saia de pauta¿.

Ele acrescentou ainda que é preciso ¿combater qualquer mau uso dos cartões¿. Contou que encontrou no Ministério das Relações Institucionais um cartão corporativo sem uso e que o manterá assim.

CPI

O ministro garantiu não temer a criação da CPI dos Cartões Corporativos, pedida pelo deputado tucano Carlos Sampaio (SP), embora não veja motivos para a investigação no Congresso. ¿Evidentemente os que desejam luzes podem aproveitar qualquer crise para pedir a instalação de uma CPI. Mas desde que se expliquem os gastos, como estão sendo apresentadas as explicações, não há motivos para uma CPI.¿

Múcio cobrou da oposição o objeto concreto da investigação. ¿O foco é o uso do cartão ou é para teatralização que, às vezes, ocorre em algumas CPIs? Se for só para fazer política, acho que não chegaremos a isso¿, afirmou. COLABOROU LUCIANA NUNES LEAL

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