Título: Reação à vacina pode ter matado enfermeira
Autor: Leite, Fabiane ; Aranda, Fernanda
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2008, Vida, p. A19

Em Goiás, morte da 11.ª vítima da doença foi confirmada ontem pela Secretaria de Estado da Saúde

Fabiane Leite e Fernanda Aranda

A morte da enfermeira Marisete Borges de Abreu ontem, em São Paulo, elevou para três o número de casos suspeitos de óbito por reações adversas à vacina contra a febre amarela em investigação no País. O caso de uma mulher que morreu no Hospital São Camilo, na capital paulista, após tomar a vacina, também está em investigação, mas não havia sido confirmado pelas secretarias da Saúde (estadual e municipal) até o início da noite de ontem.

Confira os números e a evolução da doença

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, a paciente que morreu, de 43 anos, estava em coma e sofreu choque séptico e falência múltipla dos órgãos. Portadora de lúpus e usuária de medicamentos, ela não poderia tomar a vacina, pois tinha problemas no sistema imunológico - o produto utiliza vírus vivo atenuado, que pode se manifestar em pessoas que tenham a defesa do organismo enfraquecida. A vacina só é recomendada para quem vai para áreas de risco e a recebeu há mais de dez anos. Há contra-indicações ainda para pessoas que estejam com febre intensa, câncer, aids, crianças abaixo de seis meses e gestantes, entre outras.

Ontem, a família da enfermeira, que também era formada em Letras e Ciências Sociais e tinha mestrado em Literatura, destacou que ela quis receber a imunização porque havia comprado um sítio em Juquitiba, sul do Estado de São Paulo, e temia entrar na mata e ser contaminada pelo vírus da doença - a área, no entanto, não tem circulação do vírus da febre amarela. O irmão da vítima, Francisco Borges de Abreu Filho, cobrou das autoridades informações mais precisas sobre os riscos da vacina e disse que a formação em Enfermagem não significa conhecimento profundo sobre vacinas. ¿Você sabia que a vacina pode matar? Até pessoas que estão com gripe não deveriam tomar essa vacina¿, dizia Abreu Filho ontem, no velório da irmã (leia entrevista ao lado).

`ATÉ ÁGUA FAZ MAL¿

Marisete vacinou-se em um posto de saúde da cidade de São Paulo. A secretaria municipal da Saúde informou ter concluído a verificação no posto e declarou que todas as informações sobre riscos foram passadas à paciente. ¿A moça era enfermeira, com certeza deveria saber. Todo medicamento tem contra-indicações e até água, se você cair e não souber nadar, faz mal¿, afirmou Inês Romano, coordenadora da Vigilância em Saúde.

Segundo Pedro Vasconcelos, especialista em febres hemorrágicas e consultor do Ministério da Saúde, nos EUA também já houve morte de uma pessoa pelo uso indevido da vacina em serviço de saúde. Para ele, tanto a população quanto profissionais de saúde muitas vezes recebem a informação adequada, mas resistem e não a utilizam. ¿É assim também em outras áreas, como com a aids. A pessoa acha que não vai acontecer com ela. Também houve muito sensacionalismo da mídia sobre febre amarela.¿

O ministério confirma 43 casos de reações adversas em investigação, mas não informa os locais onde ocorreram. Também não atendeu a solicitações de entrevista sobre os casos.

As secretarias da Saúde de Goiás e do Distrito Federal confirmaram que estão em investigação 39 casos leves de reação, um caso de morte de um rapaz e o de uma mulher que está em coma. Em Mato Grosso do Sul, outra morte suspeita, também de um homem, é apurada. No entanto, o governo do Estado aponta agora que a hipótese mais forte é a de que ele tenha morrido em decorrência de dengue hemorrágica.

Ontem Goiás confirmou que um garimpeiro baiano, com 53 anos de idade, e cujo nome não foi revelado, é a 11ª vítima fatal da febre amarela no País, num total de 20 confirmados. Desde o diagnóstico do primeiro caso, em 17 de dezembro, uma média de três casos foram confirmados por semana.

Com produção insuficiente para atender à demanda, o Brasil receberá vacina contra febre amarela do laboratório francês Sanofi-Pasteur, que estava em estoques controlados pela Organização Mundial da Saúde. Dez Estados devem receber 1 milhão de doses do produto, que difere da vacina brasileira por ser contra-indicada para quem está amamentando. COLABORARAM LÍGIA FORMENTI E RUBENS SANTOS

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