Título: Na ata, BC avisa que vai agir contra a inflação
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2008, Economia, p. B1

No documento, autoridade deixou claro o desconforto com os preços

Lu Aiko Otta, BRASÍLIA

O risco de alta da inflação aumentou e, a continuar essa tendência, o Banco Central (BC) poderá adotar medidas para reverter o quadro. Esse foi o recado contido na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, em que a taxa básica de juros foi mantida em 11,25% ao ano.

Segundo o documento, os integrantes do Copom consideraram mais adequado não alterar a taxa, mas ficou o aviso: ¿O Comitê reitera que está pronto para adotar uma postura diferente, por meio do ajuste dos instrumentos de política monetária, caso venha a se consolidar um cenário de divergência entre a inflação projetada e a trajetória de metas¿. Que medidas seriam adotadas é uma questão que divide especialistas.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, acha que cresceu a probabilidade de elevação das taxas de juros já em março. O vice-presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), José Arthur Assunção, foi na mesma linha. ¿Acho que, na próxima reunião, será adotado pelo menos um viés de alta (dos juros), apenas para o governo sinalizar que está ciente do problema.¿

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, já alertava que que o governo poderia lançar mão de outros instrumentos de política monetária para conter a inflação. Por exemplo, elevar a exigência de recolhimentos compulsórios dos bancos, o que se confirmou no início da noite. Essa medida, segundo o economista, teria o mesmo efeito de uma subida nos juros, para restringir o crédito. A diferença é que, ao contrário dos juros, o efeito seria imediato sobre a economia. Gonçalves acredita que a taxa de juros não subirá este ano. A consultoria LCA faz a mesma aposta e avalia que as pressões inflacionárias logo perderão a força. Com isso, o BC não concretizaria a alta do juro que deixou ¿armada¿ na ata.

O risco de recessão nos EUA, diz o documento, por ora não afetou a perspectiva de crescimento da economia brasileira. Tampouco não trouxe problemas para o País obter crédito externo. O impacto da crise sobre a inflação é ¿ambíguo¿ - ou seja, não está claro se vai jogar os preços do mercado doméstico para cima ou para baixo.

De um lado, um crescimento mais lento na economia mundial poderá baratear as commodities e os alimentos, ajudando o BC no controle da inflação. De outro, há risco de crise de confiança, que levaria o dólar a subir ante o real. Nesse caso, o efeito seria inflacionário.

RISCOS

A ata do Copom afirma que ¿as perspectivas para a inflação estão cercadas por maior incerteza, e aumentou o risco de materialização de um cenário menos benigno¿. E alertou que ¿a prudência passa a ter papel ainda mais importante, nesse processo, em momentos como o atual, caracterizado pela deterioração do balanço dos riscos inflacionários¿. COLABORARAM LUCIANA XAVIER E LUCINDA PINTO

OS RECADOS DA ATA

Inflação piorou

¿Ainda que a inflação tenha permanecido, ao final de 2007, em patamar consistente com a trajetória das metas, cabe assinalar que o comportamento recente do IPCA tem sido notadamente menos favorável.¿

¿(...) Aumentou o risco de materialização de um cenário inflacionário menos benigno.¿

¿O Copom considera que se elevou a probabilidade de que pressões inflacionárias inicialmente localizadas venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação doméstica.¿

¿A prudência passa a ter papel ainda mais importante, nesse processo, em momentos como o atual, caracterizado pela deterioração do balanço dos riscos inflacionários.¿

BC pode agir

¿Nesse contexto, mesmo considerando que, no momento, a manutenção da taxa básica de juros é a decisão mais adequada, o Comitê reitera que está pronto para adotar uma postura diferente, por meio do ajuste dos instrumentos de política monetária, caso venha a se consolidar um cenário de divergência entre a inflação projetada e a trajetória das metas.¿

¿O Comitê irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária.¿

Indústria continua forte

¿A tendência para o início de 2008, entretanto, é de continuidade do ciclo de expansão da produção industrial, que continuará a ser favorecida por diversos fatores de estímulo que atuam sobre a atividade econômica, como a expansão do crédito e do emprego, a flexibilização monetária já realizada, os impulsos fiscais e, em alguns segmentos, a recomposição dos reduzidos níveis de estoques.¿

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