Título: Falhas na lista
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2008, Notas e Informações, p. A3
Na justificativa apresentada para retirar mais de 2 mil da lista de 2.681 fazendas que considerava habilitadas para exportar carne para a União Européia (UE), o governo brasileiro reconheceu que a relação original continha falhas. Ao anunciar a redução da lista para cerca de 600 fazendas, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, explicou que muitas das unidades relacionadas apresentavam ¿deficiências burocráticas¿, entre as quais a falta de dados do proprietário. Em outros casos faltavam documentos e informações essenciais a respeito da sanidade do rebanho, como notas fiscais de compra do gado, certificados de vacinação e quantidade de bois.
Depois de uma inspeção feita por técnicos europeus em diversas regiões, a UE colocou em dúvida a eficiência do programa de controle sanitário do gado bovino no País. Por isso, decidiu que só importaria carne procedente de 300 fazendas, que seriam escolhidas pelo governo brasileiro. Mas Brasília apresentou a tal lista de 2.681 fazendas, que a UE rejeitou, decidindo, em conseqüência, suspender, a partir de 1º de fevereiro, a importação de carne brasileira.
Com a lista reduzida, que apresentará às autoridades européias na próxima quinta-feira, o governo espera resolver o problema. Mas nada garante que a UE aceitará a nova relação. ¿A UE pediu 300 fazendas e, para um europeu, 300 não são 400 nem 600¿, disse Kevin Kinfella, representante da Associação de Fazendeiros da Irlanda - a que mais pressionou as autoridades européias a impor restrições à carne brasileira -, ao enviado especial do Estado a Dublin, Jamil Chade. Os irlandeses dizem que não aceitarão a nova lista elaborada pelo governo brasileiro.
Se conseguir convencer os europeus a aceitar a lista com o dobro do número de fazendas, o Brasil ainda terá de superar outros obstáculos para restabelecer as exportações de carne bovina. No dia 25 chegará ao País nova missão de técnicos da UE para examinar as condições sanitárias de fazendas escolhidas entre aquelas que o governo brasileiro considera aptas a exportar para a Europa.
O que preocupa os europeus é a eficiência do sistema de rastreamento do gado, essencial para saber se os animais de determinada fazenda estiveram ou não em áreas em que tenha sido constatada a ocorrência de febre aftosa e outras moléstias. O Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (Sisbov), criado em 2002, foi modificado diversas vezes, passou por diferentes secretarias do Ministério da Agricultura e esteve no centro da inspeção realizada pelos europeus no ano passado. Os europeus constataram deficiências no Sisbov, que se somaram às pressões feitas pelos pecuaristas da Irlanda contra a carne brasileira. Em todo esse processo, que durou vários meses, as autoridades brasileiras não apresentaram respostas ou explicações convincentes. As restrições impostas pela UE, portanto, não chegaram a surpreender.
Já surge um efeito positivo da decisão dos europeus para o consumidor brasileiro: o preço da carne começa a cair. Para o consumidor europeu, porém, com a suspensão das importações do Brasil, o produto ficou mais caro, o que pode levar as autoridades européias a apressar a decisão sobre a reabertura das importações da carne brasileira.
No entanto, mesmo que consiga, com o atendimento das providências que vierem a ser exigidas, restabelecer as exportações para a UE - que no ano passado renderam US$ 1,3 bilhão -, o Brasil pode enfrentar outro problema. Trata-se da desconfiança crescente de outros grandes compradores em relação à eficiência do controle sanitário. A Rússia, o segundo maior importador da carne brasileira (no ano passado, absorveu 29% das exportações do País, o equivalente a US$ 1 bilhão), fez uma consulta formal ao governo brasileiro em dezembro e, há dias, manifestou preocupação com a ineficiência do Sisbov. Técnicos russos chegarão ao Brasil para examinar as condições dos frigoríficos exportadores no mesmo dia em que aqui devem desembarcar os técnicos da UE para avaliar as condições sanitárias do gado brasileiro. Dois outros grandes clientes, o Chile e o Egito, também demonstraram ao governo brasileiro preocupação com esse problema.
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