Título: Analistas divergem sobre as razões da ascensão de Obama
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2008, Internacional, p. A14

Rápido crescimento do senador acabou com o favoritismo de Hillary

Cristiano Dias

Até pouco tempo atrás, o senador Barack Obama não passava de um sujeito simpático, sempre alinhado dentro de um terno fino. Aos 46 anos, com apenas um mandato incompleto, não deveria ser ameaça para Hillary Clinton, ex-primeira-dama dos EUA, com três décadas de serviço público no currículo. Em poucos meses, porém, o jogo virou de maneira tão surpreendente que atropelou até os analistas políticos, que ainda tentam descobrir o que há por trás da Obamamania.

O escritor Steven Stark, que foi assessor do ex-presidente Jimmy Carter, diz que Obama cresceu por causa de uma inesperada mudança de rumo na corrida eleitoral. Segundo ele, até o início das primárias, o assunto principal da campanha democrata era a guerra no Iraque. Como política externa não é o forte de Obama - que defende, entre outras coisas, o diálogo dos EUA com Irã e Síria -, Hillary aproveitou para desfiar suas habilidades no tema e manter uma liderança folgada.

Em janeiro, no entanto, pouco antes do início das primárias, a economia americana patinou e, para azar da senadora, os esforços militares no front apresentaram resultado. ¿De repente, o Iraque foi substituído pela economia. Essa mudança escondeu a maior fraqueza de Obama¿, disse Stark por e-mail ao Estado.

Para ganhar status de fenômeno, Obama soube usar seu carisma e sua retórica, que inflamam platéias compostas de jovens que estão batendo recordes de comparecimento às urnas. Na Carolina do Sul, por exemplo, 550 mil democratas votaram - mais de 10% da população -, dos quais 15% tinham menos de 29 anos. Cerca de 80% deles votaram em Obama.

Outra força importante de Obama, pelo menos nas últimas semanas, veio da carteira respeitável de apoios políticos que ele conseguiu, entre eles John Kerry, candidato à presidência em 2004, e Ted Kennedy, senador democrata e irmão do presidente assassinado John F. Kennedy, que levou para a campanha vários membros do clã, inclusive Maria Shriver, sobrinha de JFK e mulher do governador republicano da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.

¿Obama é multifacetado, aberto, inteligente, independente, contrário às tradições, inovador e inspirador. Um homem capaz de sonhar¿, derreteu-se a primeira-dama da Califórnia, na segunda-feira, ao declarar seu apoio ao senador.

CORTEJANDO O INIMIGO

¿Estou cansado dessa política de segregação entre democratas e republicanos, que sempre aliena uma metade do país.¿ É com esse tipo de discurso que Obama revela um objetivo ainda mais ambicioso: levar a Obamamania para o outro lado da trincheira e contagiar os republicanos. O que parecia loucura, no entanto, tem funcionado.

Peter Wehner, analista do Centro de Ética e Política Pública, de Washington, e ex-assessor do presidente George W. Bush, elogiou o senador em recente artigo publicado pelo Washington Post, afirmando que ele ¿transcende a política¿. ¿Muitos republicanos gostam de Obama. Parte por causa de seu discurso eloqüente, mas também porque ele tem um apelo apartidário¿, disse. ¿A segunda razão para os republicanos amarem Obama, é claro, é o fato de ele estar concorrendo contra os Clintons.¿

Alguns analistas dizem que, ao tentar atrair os republicanos, Obama mostra que não basta vencer, é preciso golear. Além disso, ao enviar mensagens que falam de esperança e unidade nacional, ele estaria roubando o voto de independentes e moderados, que são parte do eleitorado de John McCain, virtual candidato republicano.

Muitos dizem que o discurso conciliatório de Obama se aproxima dos ideais de Martin Luther King. Outros comparam o jovem senador negro a John F. Kennedy. Por causa dessas credenciais e em razão da enorme rejeição a Hillary - 44% dos americanos dizem que não votariam nela -, o senador é considerado mais elegível nas eleições de novembro. Três pesquisas divulgadas na sexta-feira indicam que, com Obama, os democratas derrotariam McCain. Com Hillary, perderiam.

Para Jay Cost, cientista político da Universidade de Chicago, a maior prova da capacidade de Obama magnetizar os eleitores é o fato de ele ter arrecadado US$ 140 milhões de 650 mil pessoas diferentes. ¿Uma coisa é ganhar o voto de alguém, outra é fazer com que esse alguém doe dinheiro¿, disse. ¿Isso acontece porque ele passa a imagem de ser uma pessoa autêntica.¿

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