Título: Indefinição de candidato democrata pode fazer partido perder eleição
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2008, Internacional, p. A14

Impasse entre Hillary e Obama atrasa lançamento da candidatura oficial e favorece os rivais republicanos

Patrícia Campos Mello

O empate entre Hillary Clinton e Barack Obama ameaça rachar os democratas e levar o partido a uma das convenções mais atribuladas dos últimos 50 anos. Justamente no ano em que estão em melhor posição para ganhar a Casa Branca - por causa da baixa popularidade do presidente George W. Bush, da guerra do Iraque e da recessão -, os democratas podem acabar perdendo a eleição por picuinhas internas.

¿Existe uma grande possibilidade de o partido não decidir quem será o candidato até as convenções nacionais¿, disse ao Estado George Terry Madonna, professor de ciências políticas do Franklin & Marshall College. ¿É a primeira vez desde 1952 que uma indicação fica tão indefinida.¿ Terry acredita que há uma grande chance de que nem Obama nem Hillary consigam os 2.025 delegados necessários para a indicação.

Segundo a CNN, os dois têm uma diferença de apenas nove delegados - Hillary está com 840 e Obama com 831 -, mas estimativas de outras fontes dão à senadora uma vantagem maior. Espera-se que nas primárias da Virgínia, do Distrito de Colúmbia e de Maryland, na terça-feira, Obama leve vantagem. Hillary, por sua vez, chegaria na frente no Texas e em Ohio, em março.

¿Se não tivermos um candidato até abril, reuniremos os candidatos e chegaremos a um acordo, porque não podemos chegar rachados à convenção¿, disse o diretor do Comitê Nacional Democrata, Howard Dean, ao canal de TV NY1.

No Partido Republicano, em contrapartida, a indicação está praticamente resolvida, uma vez que o senador John McCain tem uma liderança folgada em número de delegados e espera apenas que sua indicação seja oficializada. Assim, ele poderia iniciar sua campanha nacional, enquanto os democratas ainda estariam discutindo quem seria nomeado.

Outra possibilidade é que a decisão sobre o candidato democrata fique para os superdelegados, que são integrantes do alto escalão do partido - membros do Congresso, do comitê nacional, governadores. Eles são 795 de um total de 4.049 delegados, eleitos nas prévias. No entanto, alguns superdelegados já se manifestaram contra a possibilidade de a indicação ser decidida pelos caciques do partido. ¿Se os superdelegados decidirem esta eleição, eu saio do Partido Democrata¿, disse a estrategista e superdelegada Donna Brazile à rede CNN. Assessores de Obama também indicaram que a decisão por meio dos superdelegados seria ¿injusta¿.

Outra bomba-relógio que pode explodir na convenção é o destino dos delegados de Michigan e Flórida. Os dois Estados desrespeitaram a orientação do partido e anteciparam suas primárias. Como punição, a direção nacional retirou os delegados dos dois Estados. Hillary ganhou as duas primárias e quer que esses delegados tenham voto na convenção.

Para completar, a briga pode ser decidida por ex-funcionários do governo Clinton. Dos três membros do comitê que decide a questão em última instância, dois trabalharam com o ex-presidente e marido de Hillary. ¿Cada uma dessas questões pode render brigas homéricas¿, disse Terry.

De acordo com ele, o senso comum mostra que um partido dividido não ganha eleição - foi o que ocorreu em 1952, 1968, 1972 e 1980. ¿A convenção nacional para decidir o candidato democrata acontecerá em agosto, tarde demais para curar as feridas do partido¿, afirmou.

Tudo isso para não mencionar o fator financeiro: Hillary e Obama já gastaram, juntos, US$ 165 milhões. Se a disputa se estender, eles terão de buscar mais recursos. O sonho de muitos democratas seria uma chapa Obama-Hillary. ¿Dificilmente eles chegariam a um acordo, especialmente sobre a ordem da chapa¿, disse Terry.

Tad Devine, especialista no processo de indicação do partido, ainda acredita que a disputa possa ser resolvida nos próximos dois meses. Ele não vê riscos de o partido rachar, pois acha que os eleitores democratas estão tão insatisfeitos com o atual governo republicano que negros, mulheres, latinos e brancos irão se unir em torno do candidato indicado.

¿Quem está votando em Hillary gosta de Obama. E vice-versa¿, disse ele ao Estado. Para Devine, as lideranças democratas - como Nancy Pelosi, presidente da Câmara, e Harry Reid, líder do Senado - intermediarão o processo e ajudarão as duas candidaturas a chegarem a um consenso.

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