Título: Produtor investe R$ 40 mil para rastrear gado e tem prejuízo
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2008, Economia, p. B6

Preço da arroba do boi rastreado cai 16% em Minas após embargo da UE

Eduardo Kattah

O ano de 2007 foi bastante duro para o pecuarista João Gustavo de Paula. Além de enfrentar mais 12 meses de queda na rentabilidade, o produtor mineiro viu seus custos com a alimentação do rebanho de 7 mil cabeças de gado nelore ¿explodirem¿ com a seca prolongada que atingiu o norte de Minas - a maior das últimas duas décadas. Os nove meses de estiagem resultaram na perda de 150 mil a 200 mil cabeças de gado na região, segundo estimativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG).

¿Sofremos muito por aqui¿, diz Gustavo de Paula, sócio da fazenda Capim Verde, de 7 mil hectares, situada nas áreas dos municípios de Jaíba e Montes Claros. ¿Não perdemos muitas porque tínhamos cana e compramos ração para alimentar o rebanho. Mas o custo com alimentação explodiu.¿

Gustavo de Paula esperava compensar as dificuldades do último ano com a expectativa de forte incremento nas vendas internacionais. Para se adaptar às exigências da União Européia (UE) para a importação da carne bovina brasileira, ele investiu ao menos R$ 40 mil na rastreabilidade do rebanho e na informatização dos dados da propriedade. Mas a decisão européia de embargar o produto nacional caiu como uma ducha de água fria nas expectativas.

¿O impacto é de curto prazo. Mas, se essa situação perdurar, sem dúvida haverá desestímulo muito grande para a atividade¿, diz o pecuarista, que preside a Associação de Criadores de Gado de Corte do norte mineiro.

Na hipótese do pior cenário, o produtor admite até retração no quadro de 50 funcionários de sua fazenda. ¿O ano passado foi muito ruim. Na verdade, os três últimos anos foram os piores para a pecuária brasileira em termos de rentabilidade¿, afirma. ¿Os custos aumentam todos os anos.¿

Na última quinta-feira, ele vivia a expectativa de que sua propriedade fosse mantida na nova listagem que será encaminhada pelo governo brasileiro para Bruxelas com as fazendas consideradas aptas a exportar carne para a UE.

Conforme estimativa da Sociedade Rural de Montes Claros, cerca de 80% dos bois abatidos na região tinham como destino a exportação. A Capim Verde vende carne para quatro frigoríficos do Estado, localizados em Janaúba e na região do Triângulo mineiro.

O preço da arroba do boi rastreado e voltado para o mercado externo vendido em Minas caiu de R$ 73 para R$ 61 (mesmo valor do não rastreado). Gustavo de Paula, no entanto, confia em que, daqui a dois meses, haja uma ¿readequação¿ do preço e do mercado externo para o produto brasileiro.

Ele acredita também que, se o embargo persistir, aumentará a demanda dos países europeus por carne processada e o Brasil poderá se beneficiar, já que o embargo refere-se à carne in natura.

¿Essa questão de 300 ou 600 (fazendas) não atende nem um décimo da necessidade de importação de carne da União Européia¿, destacou, ressaltando que os prejuízos já estão sendo assimilados pelo setor. ¿Não é uma catástrofe, mas é algo que vai trazer muitos prejuízos para a cadeia, para os produtores, para os frigoríficos.¿

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