Título: Apreensão mostra ligação de Beira-Mar com o PCC
Autor: Auler, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2008, Metrópole, p. C4

Para PF, convivência no presídio federal de Catanduvas aproximou chefão dos traficantes de outros Estados

Um carregamento de 20 toneladas de maconha apreendido um mês depois da Operação Fênix, em Conceição das Alagoas, a 40 quilômetros de Uberaba, em Minas Gerais, mostrou que o esquema de tráfico de Fernandinho Beira-Mar não só continuou funcionando como tem ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

A apreensão foi resultado do trabalho de agentes federais de Brasília que, no Rio, monitoraram gerentes do tráfico em favelas de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Eles souberam da carga quando os traficantes compraram uma carreta para buscar, em São Paulo, parte da maconha.

Essa carga de maconha mostrou, segundo os policiais, um novo modo de atuação dos traficantes. Após diversas apreensões - em um ano e meio das investigações da Operação Fênix foram feitos 13 flagrantes, totalizando 750 quilos de cocaína, quase 4 toneladas de maconha, além de fuzis, pistolas e munição -, eles criaram um consórcio, unindo paulistas, cariocas e mineiros. Com isso, baratearam o preço e dividiram as despesas do transporte.

A carga também mostrou como o negócio é lucrativo. A maconha foi comprada a R$ 30 o quilo, na fronteira com o Paraguai. Das 20 toneladas, 11 destinavam-se a São Paulo, 5 ao grupo de Beira-Mar no Rio e o resto a Minas Gerais. Seria vendida a, pelo menos, R$ 300 o quilo.

A droga chegaria em um sítio em Cordeirópolis (SP). No Posto Maria Estela, na Rodovia Castelo Branco, policiais federais acompanharam o encontro de um homem do Mato Grosso do Sul com representantes do PCC para acertar a entrega. Lá também foram contratados os ¿chapas¿ (trabalhadores que descarregam os caminhões), que, em um Vectra, esperavam a chegada da carreta. Mas a entrega acabou sendo desviada para Minas Gerais. O delegado federal Ricardo Ruiz Silva fez a apreensão em um sítio comprado em outubro, por R$ 80 mil à vista, por dois homens vindos das cidades de Ponta Porã e Coronel Sapucaia (MS).

Para a PF, a aproximação de Beira-Mar com representantes do PCC e de outros Estados foi facilitada pela convivência dele com bandidos que não conhecia no presídio federal de Catanduvas (PR). Lá ficou confinado, por exemplo, na mesma ala de José Claudio Arantes, o Tio Arantes, de Mato Grosso do Sul, e Sidney Romualdo, paulista de Diadema. A aproximação incluiu o pagamento do aluguel de duas casas em Catanduvas para familiares de presos de outros Estados. Uma cortesia de Beira-Mar para os colegas.

A PF apurou que o chefão do Rio fez, ao menos, duas entregas em São Paulo por meio de José Juventino da Silva, apresentado por Jaqueline Kely dos Santos Arantes, filha de Tio Arantes. A primeira ocorreu na Baixada Santista. Na segunda entrega, em julho, na zona leste da capital, deu tudo errado. A polícia apreendeu 72 quilos de cocaína e 15 de maconha e prendeu Juventino. Com ele estava a picape Mitsubishi usada no Paraguai pelo advogado João Kooling, velho comparsa de Beira-Mar, antes de sumir - provavelmente executado, acusado de ter traído o chefão.

Sidney Romualdo, por sua vez, investiu na parceria com Beira-Mar. Mandou a mulher, Rosemeire Batista Freitas, vender uma casa em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, para adquirir cocaína, por intermédio do colega de presídio. Romualdo só não esperava levar um golpe do chefão. Investiu R$ 38 mil, mas a droga entregue estava batizada. Foi rejeitada pelos receptadores.

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