Título: Ditador espanhol tinha ambições nucleares, diz CIA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2008, Internacional, p. A22
Relatório secreto liberado pela agência revela preocupação com possível arma atômica de Franco
AP
O ditador espanhol Francisco Franco tinha planos para desenvolver armas nucleares, segundo relatório secreto da CIA (Agência Central de Inteligência), citado ontem pelo jornal espanhol El País. O documento, com data de 17 de maio de 1974 e 50 páginas, foi liberado na segunda-feira pelo governo americano para o Arquivo Nacional de Segurança da Universidade George Washington.
¿A Espanha é um dos países da Europa que merecem atenção e vigilância dos EUA por causa de seu extenso e ambicioso plano nuclear¿, observou na época a agência de inteligência americana. ¿(A Espanha) tem reservas moderadas de urânio, extenso programa de desenvolvimento nuclear - 3 reatores em operação, 7 em construção e projeto para mais 17 - e uma usina piloto para o enriquecimento de urânio¿ , informava ainda o documento da CIA.
Apesar de ressaltar que a Espanha - assim como Brasil, Irã, Egito, Paquistão e Coréia do Sul - ainda precisaria de pelo menos dez anos para desenvolver armas nucleares, a CIA deixou claro que o governo americano deveria preocupar-se com o fato de a Espanha não ter assinado o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
`OBSESSÃO NUCLEAR¿
O relato sobre a ambição nuclear de Franco, que ficou no poder entre 1939 e 1975, não surpreendeu os especialistas. ¿Ele (Franco) sonhava em ter armas nucleares. Por mais estranho que pareça agora, o franquismo estava obcecado com o desenvolvimento nuclear¿, disse ontem ao El País Donato Fuejo, ex-chefe do Conselho de Segurança Nuclear (CNS) da Espanha.
Segundo Fuejo, o plano para desenvolvimento nuclear foi idealizado por Franco e seus homens de confiança com o objetivo de transformar o país numa grande potência que pudesse fazer frente à França e Grã-Bretanha. ¿Não me estranha que os americanos tivessem informação sobre esses planos. As primeiras centrais nucleares espanholas foram compradas da Westinghouse, nos EUA¿, declarou o ex-diretor da CNS. Fuejo criticou as ambições nucleares de Franco. ¿Naquela época, esses planos eram uma loucura. Não havia dinheiro, nem tecnologia suficientes. As centrais acabaram sendo herdadas pelo governo seguinte¿, disse.
A Espanha assinou o TNP em 1987 e não possui armas atômicas. No entanto, cerca de 16% da eletricidade do país vêm de reatores nucleares