Título: Com ajuda dos EUA, Colômbia põe Farc na defensiva
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2008, Internacional, p. A24

Exército se moderniza, ganha terreno frente à guerrilha e faz despencarem homicídios e seqüestros

Chris Kraul

Sete anos e US$ 4,13 bilhões desde o início de um grande programa americano de ajuda, os militares colombianos, antes uma ¿força de guarnição¿ ultrapassada que havia cedido enormes extensões de terreno às guerrilhas esquerdistas, transformaram-se numa força agressiva que tem reconquistado territórios. A mudança tem tido, porém, seu lado obscuro. Os soldados e policiais cometeram uma quantidade crescente de abusos, em paralelo à intensificação do treinamento americano, denunciam grupos de defesa dos direitos humanos. Segundo esses grupos, no período de cinco anos terminado em junho de 2006, os assassinatos extrajudiciais aumentaram mais de 50% em relação aos cinco anos anteriores - de 685 para 1.035.

Os militares também foram responsáveis por violações de segurança por conta da rapidez excessiva da expansão, como reconheceu o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos. ¿É como uma criança que cresce depressa demais. Vai haver problemas¿, disse ele, acrescentando que, para limpar a casa, seu ministério demitiu 360 oficiais nos últimos dois anos.

Mas nem os críticos contestam que os militares se tornaram uma força mais profissional e mais capacitada para o combate - uma reviravolta e tanto para uma instituição que, uma década atrás, não era considerada páreo para as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) por observadores colombianos e americanos.

No fim dos anos 90, o Exército era mais conhecido por seus desastres. Meia dúzia de bases, a maioria na selva meridional e em Estados fronteiriços, foi subjugada pelas Farc, resultando na morte ou seqüestro de centenas de soldados. Os nomes das bases - como Patascoy, Las Delicias e El Billar - viraram emblemas da inépcia militar.

Quando o presidente Álvaro Uribe assumiu o cargo, em 2002, rebeldes haviam cercado Bogotá e os militares pareciam impotentes para fazer algo a respeito. Seu antecessor, Andrés Pastrana, havia cedido um pedaço (do tamanho da Suíça) da selva às Farc na vã esperança de avançar para um acordo de paz. Agora os militares parecem estar em vantagem, segundo analistas do Pentágono.

Santos disse que os militares tiveram uma transformação fundamental: ¿Antes, o Exército estava apenas na defesa. Agora, está todo na ofensiva e ganhando grande prestígio.¿ No Forte Larandia, no Estado de Caquetá, à beira da bacia amazônica, a Força-Tarefa Conjunta Ômega personifica os novos militares colombianos. Comandos treinados pelas Forças Especiais do Exército americano que se deslocam em helicópteros Black Hawk combatem os guerrilheiros usando satélites, aparelhos especiais de escuta e bombas de alta tecnologia.

Num dos ataques da Ômega foi morto, em setembro, Tomás Medina Caracas, o Negro Acácio, um alto comandante das Farc encarregado da logística de armas e drogas. O simples fato de Forte Larandia funcionar já é um sinal de que os militares viraram uma página. A base está no coração do que se chamava de ¿República das Farc¿.

Muitos dos 14 mil soldados, marinheiros e aviadores da base participaram da campanha militar lançada em 2004 para reocupar essa zona de Caquetá e expulsar unidades das Farc da área. A operação também privou os rebeldes do que foi, durante décadas, sua combinação de armazém, quintal e área de treinamento e recreação, segundo o analista militar Álvaro Valencia Tovar, colunista do jornal El Tiempo.

Estatísticas do Comando do Sul dos EUA mostram que os homicídios na Colômbia caíram 40% e os seqüestros, 75% desde que Uribe assumiu. E as apreensões de drogas aumentaram.