Título: Anúncio decepciona investidores
Autor: Xavier, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2008, Economia, p. B4

Analistas esperavam mais detalhes do pacote de Bush; Índice Dow Jones cai pelo quarto dia consecutivo

A reação imediata do mercado financeiro ao pronunciamento do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, sobre o pacote de estímulo fiscal foi de decepção. ¿Os mercados aguardavam mais detalhes do pacote¿, comentou o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores. ¿Bush poderia ter sido mais enfático do que foi. Mas a gente enxerga que há disposição do governo e do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) em evitar recessão.¿

Segundo Borges, o pacote só deve começar a mostrar seus efeitos sobre a economia do 2º trimestre em diante. ¿A situação do primeiro trimestre já está dada¿, salientou. Até lá, afirmou o economista, os mercados devem manter a volatilidade. Um dos efeitos da fala de Bush se deu no mercado futuro de juros dos EUA, onde cresceu a aposta de um corte de 0,75 ponto porcentual da taxa básica na reunião do Fed que será realizada nos dias 29 e 30 de janeiro. Atualmente, o juro está em 4,25% ao ano.

Borges disse ainda que, a partir do segundo trimestre, ficará mais claro se os Estados Unidos entrarão em recessão ou não. Borges estima que o Produto Interno Bruto (PIB) americano terá crescimento zero no primeiro trimestre de 2008. Para o ano inteiro, o economista prevê uma expansão do PIB ¿pouco abaixo de 2%¿.

O economista Fausto Gouveia, da Alpes Corretora, concorda com o colega. ¿O pacote criou uma expectativa muito grande, que não foi atendida pelo anúncio em si¿, disse. Para ele, o volume de recursos que deve ser aplicado na ajuda, em torno de US$ 150 bilhões, é bom, já que supera as perdas estimadas com a crise das hipotecas de alto risco, de aproximadamente US$ 100 bilhões. ¿O problema é que o prejuízo final ainda é incerto¿, comentou.

A seu ver, o problema é bem mais profundo do que simplesmente injetar dinheiro na economia, porque também será preciso restaurar a confiança da população. Endividadas, as pessoas temem voltar a gastar. Gouveia também chamou a atenção para a agilidade na implementação das medidas. ¿O rápido de Bernanke e Bush não é o rápido do Congresso, que nem está funcionando ainda¿, salientou. ¿E o momento exige medidas imediatas. Precisa ser algo rápido de verdade.¿

Para o economista e professor da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda, as medidas de Bush para aquecer a economia americana são corretas, e mostram que há intervenção governamental na economia mesmo num país tradicionalmente liberal como os Estados Unidos.

Para ele, ¿as medidas do governo devem aquecer a economia¿. ¿Particularmente, não acredito que os EUA entrem em recessão, mas sofra uma desaceleração.¿ Lacerda estima que o PIB dos EUA deve crescer de 1% a 1,5% neste ano. O professor lembrou que, na crise de 1929, o economista John Maynard Keynes defendeu mecanismos semelhantes para estimular a economia.

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