Título: Para Amorim, status de grupo não deve mudar
Autor: Rosa, Vera ; Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2008, Internacional, p. A9
Atribuir condição de força beligerante às Farc, como propõe Chávez, dificultaria diálogo, afirma chanceler
Vera Rosa e Ruth Costas
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, discordou ontem da tese do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) devem ser consideradas uma ¿força beligerante¿ e não um grupo terrorista. ¿Precisamos ter diálogo (com as Farc), por motivos humanitários, mas isto não implica também dar às Farc o status político que torne difícil esse diálogo do ponto de vista do governo colombiano¿, disse chanceler brasileiro na Cidade da Guatemala, pouco antes da posse do presidente Álvaro Colom.
Chávez e o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, se encontraram na posse de Colom. Nos últimos dias, os dois protagonizaram um ruidoso embate depois de o venezuelano ter-se declarado disposto a mediar um processo de paz para a Colômbia, desde que o governo colombiano não tratasse as Farc como terroristas - algo que Uribe não aceita. A divergência ocorreu em meio ao processo de libertação das reféns Clara Rojas e Consuelo González.
Questionado sobre o assunto, Amorim disse que o Brasil não faz uma classificação definindo quais são os grupos terroristas: ¿A única organização terrorista que o Brasil tem classificada é a Al-Qaeda, porque o País segue a ONU.¿ O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, não se pronunciou sobre o status das Farc. Ele pediu apenas que Bogotá e a guerrilha cheguem a acordo para novas libertações. ¿Na medida em que as Farc se dispõem a libertar duas reféns, estão dando um sinal de que é possível libertar mais¿, disse Lula.
Para o ex-guerrilheiro colombiano Antonio Navarro Wolff, a proposta de Chávez para dar status político às Farc não ajudará a resolver o conflito. ¿É só uma estratégia para permitir que a guerrilha tenha legitimidade aos olhos da comunidade internacional, pois seria ilusão pensar que abandonará o seqüestro se seu status beligerante for reconhecido¿, disse ele ao Estado em Bogotá.
Hoje governador do Estado de Nariño, onde fica Bogotá, Navarro tem autoridade moral para falar em transição da luta armada para a ação política. Ele se incorporou no final dos anos 70 ao Movimento 19 de Abril (M-19), tem no currículo ações como a invasão do Palácio da Justiça, em 1985, onde morreram mais de 50 pessoas após a reação policial. Quando o M-19 se desmobilizou, em 1990, Navarro era seu segundo comandante. Para ele, grandes concessões só deveriam ser feitas no momento em que a guerrilha desse um sinal forte e claro de que está disposta a abandonar os seqüestros e ataques à população.
Ele diz que, se reconhecidas como força insurgente, as Farc poderiam exigir um território próprio e teriam mais facilidade para obter o apoio de outros países: ¿Seria uma estratégia falida, pois ao dar às Farc instrumentos para continuar a luta o governo prolongaria o conflito. A idéia não é humanizar a guerra, como disse Chávez, mas acabar com ela.¿
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