Título: OMS orienta que todos que vierem ao País se vacinem contra febre amarela
Autor: Leite, Fabiane ; Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2008, Vida, p. A14
Ministério da Saúde diz que órgão das Nações Unidas ampliou recomendação do governo brasileiro para o mundo
Fabiane Leite e Jamil Chade
Após a confirmação de casos de febre amarela no Brasil neste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) modificou a situação epidemiológica do País e passou a recomendar que todos os viajantes com destino a áreas de mata e floresta no Brasil se vacinem contra a doença. A alteração foi comunicada aos órgãos de saúde do mundo todo na sexta-feira, em concordância com o governo brasileiro, cujo Ministério da Saúde enviou informações à Organização das Nações Unidas.
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Antes da mudança, apesar de constar no regulamento sanitário da OMS como um país em que há risco de transmissão da doença, o Brasil estava apenas na lista das nações que exigem a vacinação de pessoas provenientes de áreas com risco. Em resumo, de nação em posição defensiva, passa a ser considerado um país que tem de se preocupar em não espalhar a doença pelo mundo.
¿O país deixa de ser uma nação que só evita que a doença ingresse em seu território e passa a se preocupar também em não contribuir com a propagação internacional da febre amarela¿, afirmou ontem Ruben Figueroa, gerente da unidade técnica de prevenção e controle de doenças da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS nas Américas. ¿A OMS reiterou a recomendação do próprio governo brasileiro¿, afirmou Eduardo Hage, diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério. ¿É uma ampliação da nossa recomendação para o mundo.¿
Como se trata de recomendação, e não de exigência, o Brasil não poderá vetar a entrada de estrangeiros que não forem vacinados contra a doença. No mundo, há nações nesse status de obrigatoriedade, em que a vacina é condição para se entrar no país. Para se alcançar esse patamar, é necessário um aval de um comitê internacional de experts. Segundo Figueroa, a situação epidemiológica do Brasil pode ser transitória, está em avaliação, daí a OMS decidir apenas fazer a recomendação. Atualmente, o País é o único em que há recomendação da OMS para a vacina - o Peru deixou de ter a indicação recentemente, afirma o gerente da Opas. Figueroa destacou ainda que a organização não vê risco de epidemia no Brasil.
¿O conceito é de proteção individual, é uma mudança estratégica. O que estamos fazendo é um alerta epidemiológico, não estamos dizendo que há risco de epidemia. A posição não é a de gerar pânico, mas de intensificar a vigilância e a prevenção¿, afirmou ainda o gerente.
O fato de a recomendação ser feita pela OMS é importante porque ajuda a espalhar a informação - autoridades sanitárias de outros países podem alertar seus cidadãos para que tomem a vacina com antecedência, para que já cheguem ao País protegidos.
No sábado, morreu em Goiás um turista espanhol com suspeita de febre amarela. Sua família reclamou da falta de informações sobre a necessidade de vacina. A vítima havia comprado uma fazenda no Estado e entrou em área de mata sem proteção - e sem saber dos riscos de permanecer assim em área de transmissão.
De acordo com Hage, do Ministério da Saúde, o órgão informou a OMS sobre a necessidade de mudança da situação epidemiológica em 20 de dezembro do ano passado, mas o informe mundial só chegou na sexta-feira, confirmou.
De dezembro até agora, foram confirmados três casos de febre amarela no País, com duas mortes. Há outros 17 em investigação.
ALERTA
Em entrevista ao Estado, dirigentes da Opas em Genebra afirmaram que novos casos humanos de febre amarela deverão ainda surgir no Brasil nos próximos dias e sugeriram que os esforços de vacinação sejam mantidos.
¿O atual ciclo (da doença) é intenso e extensivo, cobrindo uma vasta área do centro do Brasil¿, afirma um documento preparado pela OMS sobre a situação no País. ¿Os casos devem continuar¿, afirmou o porta-voz da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), Daniel Epstein, que garante que isso não significa que a febre amarela voltou com força ao País. ¿O que vemos é que se trata de um ciclo natural¿, disse.
Nos últimos sete anos, apenas cinco países nas Américas registraram casos humanos da febre amarela, entre eles o Brasil, Bolívia, Colômbia, Peru e Venezuela.
Para a entidade regional da OMS para as Américas, o ressurgimento de casos ocorre no Brasil a cada cinco ou sete anos desde 1930.
No documento que avalia a situação no Brasil preparado pela OMS, a entidade aponta ainda que ¿é muito importante manter a estratégia de prevenção e controle de surto para reduzir a possibilidade de novas ocorrências de casos humanos e restringir a extensão geográfica do surto¿.
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