Título: Manter investimentos é forma de barrar a crise, diz ministro
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2008, Economia, p. B3

Paulo Bernardo afirma que turbulência não afetou a economia brasileira

Manter os investimentos em alta é a chave para proteger a economia brasileira contra os efeitos da crise internacional. Essa é a avaliação corrente no governo, segundo informou ao Estado o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. ¿O presidente Lula nos orientou a tranqüilizar os agentes econômicos, para preservar investimentos¿, disse.

Do ponto de vista do governo, a crise não trouxe efeitos para a economia brasileira. ¿Vamos ser sinceros: o efeito é zero, com exceção da Bolsa de Valores, que trabalha apostando nas cotações de Nova York¿, comentou o ministro. ¿Fora isso, não temos problema nenhum: não caíram as nossas exportações, não se alterou substancialmente o valor da moeda, não teve queda do consumo, a inflação não foi alterada.¿ A equipe econômica, porém, está atenta a qualquer sinal de piora que possa afetar a economia do País.

No esforço de manter o moral do empresariado alto, Lula tem aberto espaço em sua agenda para receber presidentes de grandes empresas. Só em janeiro, foram cinco: Eugênio Staub (Gradiente), Gabriele Galateri di Genola (Telecom Itália), Shoei Utsuda (Mitsui), Gisela Mac Laren (Mac Laren Oil) e John G. Rice (GE). Lula ainda recebeu a diretoria do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) e prestigiou a comemoração dos 50 anos da Toyota no Brasil.

¿O governo vai fazer sua parte, vai investir, vai ver se consegue melhorar os mecanismos que permitam o crescimento econômico¿, disse Bernardo. ¿Essa foi a aposta que fizemos quando lançamos o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).¿ Ele explicou que boa parte dos R$ 504 bilhões em investimentos previstos no programa até 2010 é do setor privado, que tem respondido positivamente.

Manter um ambiente favorável aos investimentos foi a principal preocupação de Lula quando o governo foi derrotado no Congresso e não conseguiu manter a cobrança da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF). Por isso, ele determinou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciasse de imediato que o governo manteria a austeridade fiscal e cumpriria a meta de resultado das contas públicas, mesmo com a perda de arrecadação de R$ 40 bilhões. A outra orientação foi não cortar as verbas do PAC.

¿Foram duas formas de dizer: não tenham medo de investir¿, disse o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Ele avaliou que manter os investimentos em alta é uma boa estratégia porque, com maior expansão do parque produtivo, menores são as chances de ocorrer uma alta de inflação que leve o Banco Central a subir os juros.

Almeida informou que, até agora, os empresários não reviram seus planos de investimento. ¿O espírito animal está acirrado¿, brincou. As pesquisas que medem o ânimo dos empresários, feitas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Iedi, mostram que o otimismo continua grande.

Isso não quer dizer, porém, que o quadro não possa mudar. ¿Eles podem adiar decisões de investimento¿, disse o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada. Ele se refere às empresas estrangeiras, que podem enfrentar problema de crédito.

Loyola concorda, porém, com a avaliação do governo de que a crise não afetou os fundamentos da economia brasileira. ¿A melhor vacina é manter a política fiscal e monetária responsável¿, disse ele.

Almeida alerta, porém, que a economia do País não está imune à crise. Ele discorda de uma avaliação corrente no governo de que a queda no volume de exportações para os Estados Unidos indica menor dependência em relação àquele país. ¿No dado global isso ocorre, mas nos manufaturados os EUA seguem sendo um de nossos principais mercados. Significa que a indústria pode ser mais afetada do que outros setores.¿

FRASES

Paulo Bernardo Ministro do Planejamento

¿O efeito da crise é zero, com exceção da Bolsa de Valores, que trabalha apostando nas cotações de Nova York¿

¿O governo vai fazer sua parte e investir¿

Gustavo Loyola Ex-presidente do BC

¿A melhor vacina é manter a política fiscal e monetária responsável¿