Título: Criação da supertele enfrenta problemas
Autor: Junior, Nilson Brandão
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2008, Negócios, p. B11

As negociações para a formação da supertele, que pode ser criada pela compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (antiga Telemar) estão levando mais tempo que o esperado. Um sinal disso é o fato relevante divulgado na quinta-feira pela Oi, a empresa confirmou as conversas e divulgou uma previsão de preço, mas disse que a aquisição ainda não estava fechada. A expectativa do mercado, e de alguns acionistas das operadoras, era que fosse divulgado ainda esta semana um comunicado com uma proposta fechada de aquisição. Ontem, as ações da Telemar caíram 4,59%, enquanto o Ibovespa avançou 0,19%.

Segundo fontes do mercado, as dificuldades vêm de duas frentes: o Banco Opportunity e a presidência da República. O banqueiro Daniel Dantas teria imposto exigências que os outros acionistas acham difícil de cumprir. ¿O Opportunity tem sido o mais difícil de negociar¿, disse uma fonte que acompanha de perto as negociações.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria preocupado com a repercussão de um decreto presidencial que beneficie a Oi, operadora que fez um investimento milionário na Gamecorp, empresa que tem Fábio Luiz da Silva, um dos filhos do presidente, como acionista.

Interlocutores próximos teriam apontado que Lula teria mais a perder do que a ganhar com uma intervenção direta no processo. Fontes de Brasília, ouvidas pelo Estado, garantiram que o assunto está bem encaminhado. Fontes das empresas, por outro lado, vêem o assunto como ¿mais ou menos bem encaminhado¿.

Em Brasília, a oposição começa a questionar a formação da supertele. O presidente do PPS, Roberto Freire, e o vice-líder do partido na Câmara, deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), vão se reunir na segunda feira com o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ronaldo Sardenberg, para discutir a eventual fusão da Oi com a Brasil Telecom (BrT).

Jardim questiona o apoio do governo ao negócio e o financiamento que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverá conceder aos controladores da Oi para a compra da BrT.

¿A fusão da Oi com a BrT é caso extremamente nebuloso¿, afirmou o deputado em nota publicada na página do partido na internet, na qual é informada a data da reunião. Segundo ele, o negócio está sendo tratado nos bastidores e tem mobilizado ¿grandes interesses econômicos, ministros, ex-ministros e até familiares do presidente Lula¿. Os Democratas planejam questionar na Justiça a aquisição, que consideram ilegal sob o ponto de vista da concorrência.

O mercado aguarda para a próxima semana a publicação de um fato relevante que oficialize a intenção de compra da Brasil Telecom pela Oi. A partir do fato relevante, o Ministério das Comunicações deverá fazer uma consulta à Anatel sobre a viabilidade de se mudar as regras para permitir o negócio. Hoje a legislação proíbe fusões e ações de compra e venda entre concessionárias de telefonia fixa, entre elas a Oi e a BrT.

De forma geral, incertezas têm levado os negociadores a prever todas as possibilidades em jogo, o que alonga o processo de tomada de decisão. Inicialmente, a expectativa dos acionistas era de concluir o memorando na véspera do carnaval. A data acabou sendo adiada para ontem. Em seguida, se passou a trabalhar com a hipótese de anúncio no início da semana que vem e já se espera um novo adiamento.

Na prática, há duas operações em curso. Uma é a de consolidação do controle da TmarPart (dona da operadora Oi) nas mãos do grupos La Fonte, de Carlos Jereissati, e Andrade Gutierrez, de Sergio Andrade. Esses dois acionistas vão comprar participações de sócios no negócio, como o Citigroup, GP Participações e Opportunity.

Ainda nesse processo, os fundos Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica Federal), que já participam da TmarPart, querem comprar uma parte da fatia do BNDES para aumentar seu peso relativo e poder decisório na nova configuração da controladora.

Em seguida, a operadora Oi planeja comprar o controle da BrT, representado pelos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros e Funcef, Citigroup e Opportunity. A idéia inicial é manter a BrT como uma controlada da Oi. Uma eventual fusão entre as duas operadoras ficaria para o futuro.

Há sócios que estão decididos a deixar as empresas em jogo, como a GP Participação, que quer sair a TmarPart, e o Citigroup, que quer vender suas fatias na controladora da Oi e na BrT. Estes dois sócios não estariam aceitando condições novas, como cláusulas de reversibilidade, que levariam as negociações à estaca zero.

O BNDES planeja reduzir sua participação no capital da TmarPart, mas compensará essa diminuição com um instrumento híbrido de renda fixa e variável.

Segundo uma fonte ligada à operação, o sistema de renda variável se dará pela valorização da nova empresa que será formada a partir da compra, e não sobre a holding da Oi.

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