Título: Único jeito de chamar atenção é invadir, diz bispo
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2008, Nacional, p. A10

Para integrante da Comissão Pastoral da Terra, governo só faz reforma agrária com `situação de insegurança¿

José Maria Tomazela, SOROCABA

O bispo de Presidente Prudente, d. José Maria Libório Saracho, representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em São Paulo, disse ontem que vai incentivar sem-terra a continuarem invadindo fazendas no Pontal do Paranapanema, a região com maior número de conflitos agrários do Estado. Até ontem, tinham sido ocupadas 18 fazendas na região, no chamado ¿carnaval vermelho¿ do líder do Movimento dos Sem-Terra (MST) José Rainha Júnior.

Novas ações devem ocorrer até o fim da semana. ¿O único jeito de chamar a atenção do governo para a reforma agrária é invadir e criar uma situação de insegurança¿, afirmou d. José Maria ontem. ¿Animo o pessoal para que continue invadindo. As multinacionais não vão querer vir para cá se a situação for de insegurança. A cana-de-açúcar vai ser um fracasso e o governo vai ter de fazer alguma coisa pelo povo.¿

Na manhã de hoje, o bispo recebe representantes do MST, do Movimento dos Agricultores Sem-Terra (Mast) e de outros movimentos e sindicatos rurais envolvidos na recente onda de invasões. Eles vão pedir que fale com o governador José Serra para que tire da pauta da Assembléia o projeto de regularização das terras do Pontal enviado em 2007.

As áreas a serem legitimadas pelo projeto são fazendas com mais de 500 hectares que estão em disputa na Justiça, pois o Estado considera as terras devolutas, mas os donos alegam ser proprietários legítimos. Em troca, os donos cederiam parte das áreas para serem usadas na reforma agrária.

DIÁLOGO

D. José Maria se dispôs a falar com Serra e contou que ele lhe telefonou no ano passado, quando recebeu o secretário de Justiça, Luiz Antonio Marrey, para discutir o projeto. ¿Disse que viria bater um papo, mas não veio. Se ele quiser me escutar, vou dizer que ele está errado sobre esse projeto.¿ O bispo entende que seria ¿injusto e imoral¿ legalizar terras passíveis de destinação para a reforma agrária, quando há famílias passando fome nos acampamentos. ¿Falei isso para o Marrey e ele me disse que eu estava equivocado, mas os equivocados são eles.¿

Segundo o bispo, nos últimos anos o Estado adquiriu, com dinheiro repassado pelo governo federal, as Fazendas Porto Maria, Santa Tereza, Santo Expedito e São Camilo, no Pontal, mas não assentou famílias em nenhuma. ¿Não adianta o Incra repassar dinheiro se o Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) não coloca as fazendas em dia para o povo trabalhar.¿

Ele alegou que o Estado devolveu R$ 20 milhões dos R$ 56 milhões repassados em 2007. ¿É uma vergonha devolver para Brasília a parte não gasta.¿ Marrey afirmara ao Estado que o repasse foi de R$ 38 milhões e R$ 34,4 milhões foram usados.

O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse que o bispo ¿não mede os limites, é ligado à esquerda radical, da qual fazem parte o MST e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)¿. Ele lamentou que o bispo se utilize da Igreja Católica ¿para pregar o vandalismo e a baderna¿. O presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho da Silva, considerou uma ¿profunda irresponsabilidade¿ as declarações do bispo. ¿Afasta o desenvolvimento e não resolve o problema do desemprego daquelas pessoas.¿ Ele disse que a reforma agrária ¿já cansou¿.

Para o líder do MST Valmir Rodrigues Chaves, d. José Maria é aliado da reforma agrária. ¿O que ele está dizendo é o que o MST também acha: se não houver pressão a reforma não sai.¿

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