Título: Ramos-Horta será operado de novo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2008, Internacional, p. A19

Os médicos que estão tratando do presidente timorense, José Ramos-Horta, no Hospital Real de Darwin, na Austrália, disseram que ele precisa ser submetido a novas cirurgias, mas esperavam uma recuperação total. Len Notaras, diretor-geral do hospital, disse que três médicos operaram Ramos-Horta - alvo de tentativa de assassinato no domingo - por mais de duas horas na segunda-feira à noite para a retirada de fragmentos de bala. ¿Após perder tanto sangue, ele teve muita sorte de ter sobrevivido¿, disse Notaras.

O clima na capital de Timor Leste, Díli, era de calma tensa após o governo decretar estado de emergência, horas depois de militares rebeldes atirarem contra Ramos-Horta.

O presidente levou um tiro no estômago e dois no peito na segunda-feira pela manhã (noite de domingo no Brasil) perto de sua casa. Um segurança presidencial e dois militares rebeldes, entre eles o comandante Alfredo Reinado, foram mortos no tiroteio. Num segundo ataque, uma hora depois, outro grupo de rebeldes atacou o automóvel do primeiro-ministro Xanana Gusmão, que escapou ileso.

As tropas australianas começaram a chegar ontem a Timor Leste para ajudar o país, de 1 milhão de habitantes, a reforçar sua segurança. Uma fragata australiana também chegou à costa de Díli para apoiar os primeiros 200 soldados de reação rápida. Cerca de 1.600 capacetes azuis da ONU, respaldados por mil soldados australianos, patrulhavam ontem as ruas de Díli. Sob o estado de emergência, foram proibidas as reuniões e foi decretado o toque de recolher das 20 às 6 horas.

As lojas abriram normalmente ontem, apesar da preocupação sobre possíveis repercussões do que o governo qualificou de uma tentativa de golpe de Estado. Os moradores admitiam que estavam nervosos.

Muitos temem uma nova onda de violência como a de 2006, que deixou 37 mortos. Ela foi provocada por soldados que reclamavam de soldos baixos e discriminação e foram demitidos pelo então primeiro-ministro Mari Alkatiri.

As autoridades tentavam ontem capturar alguns desses soldados, que estariam envolvidos nos atentados contra Ramos-Horta e Xanana.

Segundo Helen Hill, especialista em Timor Leste da Universidade de Melbourne, ¿em curto prazo ainda haverá muito medo, pois os seguidores de Reinado permanecem soltos e armados, mas no longo prazo (com a morte do comandante rebelde), uma das maiores dores de cabeça do governo timorense foi afastada.¿

Segundo analistas, o envolvimento de Reinado nos atentados não é nenhuma surpresa, pois recentemente ele havia confrontado o governo, que tentou sem sucesso desarmar seus homens e persuadi-lo a render-se. Sua morte pode enfraquecer a coesão de seu grupo.

Sophia Cason, analista do International Crisis Group, disse que outras facções rebeldes já estavam cansadas de esconder-se e buscavam um acordo com o governo, sem Reinado. NYT, REUTERS, AP E CHRISTIAN SCIENCE MONITOR

CRISE DOS REBELDES

28/4/2006 - Começa onda de violência provocada por militares demitidos que protestavam contra baixos soldos e discriminação

25/7/2006 - Os soldados australianos detêm o líder rebelde Alfredo Reinado

30/8/2006 - Reinado foge da prisão com 54 de seus homens

20/5/2007 - José Ramos-Horta assume a presidência de Timor

22/11/2007 - Os rebeldes liderados por Reinado ameaçam entrar em Díli se as autoridades não dialogarem com eles antes do Natal.

11/2/2008 - Rebeldes atacam Ramos-Horta e Xanana Gusmão

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