Título: Rússia quer proibir armas espaciais
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2008, Internacional, p. A20

Numa tentativa de conter o poder americano no espaço, Rússia e China apresentaram uma proposta para um acordo internacional proibindo armas espaciais. O plano de Moscou e Pequim prevê que nenhum país poderá instalar armas no espaço nem ameaçar naves e satélites estrangeiros.

Num encontro, ontem, na sede da ONU em Genebra, o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, fez um alerta sobre a utilização militar do espaço, que pode levar a uma nova Guerra Fria e a uma corrida armamentista.

Numa crítica velada à Casa Branca, Lavrov disse que ¿instalar armas no espaço resultaria inevitavelmente numa reação em cadeia (por parte de outros governos)¿. Para ele, tal atitude causaria uma ¿nova espiral na corrida armamentista tanto no espaço como na Terra¿.

O governo brasileiro indicou que é favorável à proibição de armas no espaço e quer garantias de que todos os países tenham acesso a pesquisas. Mas Brasília diz que ainda estudará ¿detalhadamente¿ a proposta.

O uso de armas no espaço está proibido desde 1967, mas Washington dá sinais de que pode retomar seus planos de um programa de mísseis espaciais. As atuais iniciativas americanas no setor militar estão deixando a Rússia em estado de alerta.

¿A corrida armamentista durou quatro décadas e resultou num grande desperdício de recursos. Será que vale a pena repetir essa história ?¿, questionou Lavrov.

O russo ainda fez a advertência de que não hesitaria em promover uma corrida armamentista se os americanos seguirem com seus projetos espaciais. ¿Não vamos esquecer de que a Guerra Fria começou com a meta de preservar o monopólio de um tipo de arma.¿

O governo americano não vê com bons olhos a nova proposta russa-chinesa. Para Washington, a proibição poderia frear sua tentativa de garantir a supremacia em todas as áreas de defesa. A Casa Branca também alega que a proposta é uma forma de russos e chineses desenvolverem-se militarmente em outros campos, enquanto congelam pesquisas militares no espaço. Em 2006, o presidente americano, George W. Bush, assinou uma lei em que previa a pesquisa de armas espaciais para garantir a proteção de satélites.

O debate sobre a proposta deve levar anos, principalmente diante do impasse que já dura uma década na Conferência de Desarmamento da ONU. Mas, segundo diplomatas, a proposta de Pequim e Moscou tem um importante efeito político e demonstra que o clima entre as superpotências hoje não é o de confiança mútua. Prova disso seria o sistema antimísseis que os americanos insistem em criar na República Checa e na Polônia, contra uma suposta ameaça iraniana. Moscou acredita que o sistema de proteção seria na realidade contra seus mísseis.

Lavrov também fez outra ameaça em Genebra, dessa vez contra a província sérvia de Kosovo, dizendo que uma declaração unilateral de independência violaria o direito internacional e ameaçaria a segurança da Europa. Ele afirmou que o Kremlin ¿trabalhará até o último minuto¿ para evitar a independência do território.

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