Título: Eleição determinará futuro de Fidel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2008, Internacional, p. A9
Raúl Castro anuncia que novo Parlamento eleito ontem decidirá em 24 de fevereiro se líder continuará na presidência
AFP e AP, Havana
Cerca de 8,4 milhões de cubanos foram às urnas ontem para ratificar seu apoio aos candidatos indicados pelo governo ao Parlamento - incluindo o líder Fidel Castro. A votação faz parte do processo eleitoral que definirá o futuro político da ilha.
A grande incógnita, no caso, não é o nome dos candidatos vitoriosos - foram apresentados 614 candidatos para 614 cargos e a grande maioria dos cubanos prometeu dar um ¿voto unido¿, elegendo todos em bloco -, mas sim se esses novos parlamentares apontarão como chefe de Estado e de governo do país o velho líder Fidel Castro, que passou o poder para Raúl Castro, seu irmão mais novo, após uma cirurgia de emergência no intestino, em 2006.
Raúl, hoje presidente interino da ilha, anunciou ontem que a decisão será tomada no dia 24 de fevereiro. ¿Essa votação é muito importante. Estamos elegendo um novo Parlamento em uma etapa complexa, na qual temos de enfrentar diferentes situações e grandes decisões, pouco a pouco¿, disse Raúl durante a votação.
Desde 1976, quando foi criado esse sistema eleitoral, nunca houve dúvidas de que Fidel seria o indicado pelo Parlamento. Por causa do precário estado de saúde em que se encontra o líder cubano, porém, neste ano os parlamentares poderão optar por Raúl ou por qualquer outra figura do governo.
¿Posso antecipar que vou votar em Fidel¿, disse o vice-presidente Carlos Lage enquanto votava. ¿Sem dúvida há avanços em seu processo de recuperação.¿
Fidel votou em sua casa, de acordo com um comunicado veiculado pela televisão oficial. Recentemente, ele escreveu um artigo dizendo que não está mais apegado ao poder e nem é contra a chegada de novas gerações ao governo.
VOTO UNIDO
Os cubanos também foram às urnas para ratificar 1.201 delegados provinciais. Os eleitores podiam votar um a um, em cada candidato, mas as autoridades cubanas fizeram um intensa campanha pelo ¿voto unido¿.
¿Eu aderi ao voto unido por questão de consciência¿, disse ontem Fidel, que foi quem inventou essa forma de votar em 1993, em um dos piores momentos da crise econômica na ilha.
Os oposicionistas cubanos defendem a abstenção e os votos brancos e nulos como forma de protesto. Eles acusam o governo de fazer das eleições uma ¿farsa¿ da qual a população participa apenas ¿por medo¿.
Fidel, que não aparece em público desde 26 de julho de 2006, reuniu-se na semana passada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assegurou que o líder cubano está com uma ¿lucidez incrível¿, uma ¿saúde impecável¿ e pronto para reassumir seu papel político em Cuba.
Há cinco dias, porém, Fidel admitiu que não está capacitado fisicamente para participar de atos públicos e, por isso, limita-se a fazer o que pode, ou seja, escrever.