Título: Ex-refém relata tentativa de fuga de Ingrid
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2008, Internacional, p. A9
Livro de colega de cativeiro conta como a franco-colombiana tentou escapar e acabou acorrentada em uma árvore
Bogotá
O soldado John Frank Pinchao, que fugiu no ano passado após nove anos de cativeiro nas mãos da guerrilha colombiana, divulgou ontem trechos de um livro sobre o período em que esteve seqüestrado. Entre outras histórias, Pinchao relata uma tentativa de fuga da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt.
De origem franco-colombiana, Ingrid foi capturada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2002 e hoje é a refém que recebe maior destaque do grupo de 44 seqüestrados políticos que a guerrilha pretende trocar por cerca de 500 rebeldes presos pelo governo colombiano.
Segundo Pinchao, certa vez Ingrid escapou durante a noite junto com o ex-senador Luis Eladio Perez e os guerrilheiros só se deram conta de seu desaparecimento pela manhã. Após a fuga, todos os reféns tiveram suas botas confiscadas e foram obrigados a andar descalços. Os rebeldes foram colocados em alerta para recuperar os fugitivos.
¿Após cinco dias, Castelhanos (um dos guerrilheiros) disse: `Bom dia doutora, como foi o passeio?¿ Vimos que vinham Luis e Ingrid, cansados e muito magros¿, conta Pinchao, acrescentando que ambos foram recapturados porque pensaram que alguns guerrilheiros eram pescadores e pediram ajuda para eles. ¿Durante esses dias, eles tiveram um desgaste físico impressionante, chegaram totalmente deteriorados.¿
De acordo com o soldado, depois da tentativa de fuga, Ingrid e o ex-senador foram acorrentados pelo pescoço a uma árvore. ¿Ingrid resistiu, mas os guerrilheiros acabaram colocando as correntes nela à força. Ela disse à guerrilheira Gira que guardasse aquela imagem porque não a esqueceria nunca.¿
No capítulo de seu livro, que será lançado esta semana, o ex-refém também diz que um dos guerrilheiros tentou abusar sexualmente de Ingrid e, por isso, foi afastado do grupo.
GIRO EUROPEU
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, chegou ontem à França para encontrar-se com o presidente Francês, Nicolas Sarkozy, um dos líderes mundiais que mais tem pressionado por um acordo humanitário com as Farc.
Antes do encontro com Sarkozy, marcado para hoje, ele reuniu-se com parentes de Ingrid. Questionado sobre a proposta da igreja de ajudar nas negociações com a guerrilha, Uribe disse estar ¿aberto ao diálogo¿ com os rebeldes.
O presidente colombiano pretende fazer um giro pela Europa para discutir a participação dos europeus no conflito colombiano e explicar sua posição sobre as Farc. Há duas semanas o presidente venezuelano, Hugo Chávez, propôs que Bogotá, os EUA e os países europeus considerassem as Farc uma ¿força beligerante¿, em vez de um ¿grupo terrorista¿. A proposta foi prontamente rejeitada por todos. EFE, AFP E REUTERS