Título: Criador da JetBlue terá empresa no Brasil com aviões da Embraer
Autor: Barbosa, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2008, Economia, p. B10
David Neeleman está no País negociando a compra de uma companhia aérea com autorização de vôo
Mariana Barbosa
O empresário David Neeleman, fundador da americana JetBlue, pretende lançar uma companhia aérea no Brasil ainda este ano. Para isso, está finalizando a compra de 36 jatos da família 190 da Embraer, com mais 38 opções de compra. O empresário está no Brasil esta semana para negociar com a Embraer e também para fechar a compra de uma companhia regional, revelam fontes próximas ao negócio. Procurada, a Embraer não quis comentar.
A intenção inicial de Neeleman, 48 anos, era criar uma companhia do zero, mas optou por comprar uma pequena empresa com autorização para voar, o chamado Cheta, para ganhar tempo. Se tivesse que abrir uma empresa e dar entrada no pedido de autorização de vôo na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o empresário levaria pelo menos um ano. Neeleman andou sondando algumas empresas, como TAF, BRA e Vasp, mas desistiu diante das dívidas, sobretudo no caso das últimas duas.
Neeleman se associou a grupos financeiros e levantou US$ 200 milhões para investir no negócio. A nova companhia ainda não tem nome, mas não se chamará JetBlue. A intenção é entrar em operação por volta de novembro ou dezembro.
Como tem dupla nacionalidade - é americano nascido no Brasil - Neeleman está habilitado a abrir uma companhia no Brasil sem se sujeitar à lei que restringe em 20% a participação estrangeira no setor aéreo.
No Brasil, Neeleman pretende repetir o sucesso da JetBlue, oferecendo preços baixos e serviço diferenciado. Com os jatos de 100 lugares da Embraer, quer explorar aeroportos alternativos e deve centrar as operações em Viracopos, Campinas. O modelo de negócios seria intermediário entre a operação das grandes empresas como TAM, Gol e Varig, e as pequenas companhias regionais.
Neeleman tem fortes ligações com o Brasil. Além de ter nascido em São Paulo, quando seu pai era correspondente da agência de notícias United Press Internacional (UPI), voltou ao País aos 19 anos, como missionário mórmon. Fala fluentemente o português e mantém muitos amigos por aqui. Mas o interesse de Neeleman pelo mercado brasileiro surgiu depois que ele foi demitido da presidência da JetBlue, em maio do ano passado. Neeleman saiu três meses depois do colapso das operações da companhia, quando, durante uma nevasca, passageiros ficaram mais de cinco horas sem poder sair dos aviões. Frustrado por ter sido afastado do dia-a-dia da empresa que havia fundado sete anos antes - ele continua na presidência do Conselho de Administração - Neeleman saiu em busca de novos desafios.
Nos Estados Unidos, a JetBlue fez sucesso ao enfrentar diretamente as grandes companhias, oferecendo vôos sem escalas a preços bastante competitivos. Mas, diferentemente das empresas do tipo low cost (baixo custo) - como as européias RyanAir e Easyjet -, a JetBlue oferece serviços diferenciados. Os aviões são confortáveis, com bancos de couro e uma distância entre assentos acima da média do setor. Não há comida a bordo, mas os passageiros têm acesso a televisão por satélite de graça, em telas individuais. Em um avião que está sendo usado para testes, é possível ainda conectar-se à internet e enviar mensagens de Blackberry.
Além de comprar bilhete e fazer check-in pela internet, o passageiro da JetBlue pode imprimir em casa a etiqueta de sua própria bagagem. Em alguns destinos, é possível ainda despachar a bagagem com quatro horas de antecedência em hotéis e centros de convenções.
Neeleman é um entusiasta da automatização. Foi ele quem inventou o e-ticket, o bilhete eletrônico hoje difundido por toda a indústria. O sistema, chamado de OpenSkies, foi usado de forma pioneira na Morris Air, empresa co-fundada por Neeleman em 1984. A companhia foi vendida para a SouthWest em 1993 por US$ 130 milhões. Estima-se que o empresário tenha embolsado US$ 20 milhões com a operação. Cinco anos depois, Neeleman ganhou mais uma bolada ao vender o sistema de e-ticket para a HP, por um valor não divulgado. COLABOROU ELISÂNGELA ROXO
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36 jatos E-190 da Embraer, cada um com 100 lugares, devem formar a frota da empresa brasileira do fundador da JetBlue
38 opções de compra ainda podem ser negociadas pela empresa com a Embraer
US$ 200 milhões é quanto o empresário levantou para investir em uma companhia no Brasil
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