Título: Filho de Lobão deve renunciar ao mandato
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2008, Nacional, p. A5

PMDB faz pressão para evitar que as denúncias contra ele atrapalhem gestão de seu pai no ministério

Pressionado por parlamentares do PMDB, o suplente no Senado do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, seu filho Edison Lobão Filho (DEM-MA), conhecido por Edinho, deve renunciar ao mandato e não apenas se licenciar do cargo. Apoiada pela cúpula do partido, a medida derruba a estratégia inicial, apoiada pelo senador José Sarney (PMDB-AP), pela qual o filho do novo ministro apenas transferiria a vaga provisoriamente ao segundo suplente, o peemedebista Remi Ribeiro, enquanto aguarda que se silenciem ou sejam esclarecidas as denúncias de que é alvo.

A preocupação dos peemedebistas se explica: eles temem que a ligação de Edinho com o Senado, mesmo ele sendo de outro partido, e as repercussões daí decorrentes dificultem a permanência de seu pai, que é do PMDB, no ministério. Na avaliação de um senador que acompanha os movimentos da cúpula do partido, Lobão estaria numa situação ¿danada¿. Para parlamentares da bancada do PMDB no Senado, Lobão pode ser arrastado pelas investigações contra seu filho ou ganhar credibilidade com a renúncia de Edinho.

No entanto, a biografia de Remi Ribeiro deixa igualmente a desejar. Ele foi apontado, em 2005, como um dos beneficiários do esquema de apropriação indébita de recursos da Prefeitura de São Bento, no Maranhão, onde era tesoureiro. Ainda assim, a avaliação do PMDB é que sua posse na vaga de senador vai ¿pesar¿ menos para o ministro do que a do filho.

PREÇO ALTO

O certo, na opinião de um bom número de peemedebistas, é que o recém-empossado ministro vai pagar um preço alto se for substituído no Senado pelo filho. Edinho é suspeito, entre outras coisas, de falsidade ideológica e enriquecimento ilícito.

Ele está sendo investigado pelo Ministério Público do Maranhão como sócio oculto da distribuidora de bebidas Itumar, cuja dívida com o Fisco do Estado ultrapassa a casa dos R$ 40 milhões. A empresa teria sido transferida para a empregada doméstica de um sócio dele. O Ministério Público acredita que a empregada doméstica foi usada como laranja.

Depois do desgaste com o processo que levou à renúncia de Renan Calheiros (AL) da presidência do Senado, no ano passado, preocupa o PMDB ter de arcar novamente com o envolvimento de seus filiados em denúncias de irregularidades. Essa inquietação - ainda que de forma indireta, no caso de Lobão - ficou patente na quinta-feira, quando José Sarney, padrinho da indicação de Lobão ao ministério, chamou à sua casa dirigentes do partido para acertar a tática pela qual Edinho se licenciaria. Já a continuidade das denúncias e a falta de indicação de que serão esclarecidas foram usadas como argumento de que o melhor mesmo para o novo ministro de Minas e Energia é que seu filho se afaste de uma vez por todas do Senado.

CORREGEDORIA

Mesmo sem saber ainda qual será o futuro de Edinho, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), iniciou ontem o que ele chama de ¿procedimentos preventivos¿ para investigá-lo caso resolva assumir o mandato. Ele pediu informações sobre o suplente à Polícia Civil do Maranhão e à Polícia Federal. Também marcou uma conversa com o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, sobre a suspeita de que o suplente teria cometido falsidade ideológica na transferência da propriedade da distribuidora de bebidas Itumar.

Segundo Tuma, se for confirmado o uso de documentos falsos, deve ser encaminhada uma ação pública, não se tratando, portanto, de dados sigilosos. O corregedor disse ter obtido aval do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), para tomar as providências.

BRECHA

Tuma tem dúvidas se um pedido de licença de Edinho seria suficiente para paralisar uma investigação no Senado. Em sua opinião, isso não deveria ocorrer, dada a possibilidade de ele retomar o cargo a qualquer momento.

Até ontem à noite, nem o filho de Lobão nem Remi Ribeiro tinham feito contato com a Secretaria-Geral do Senado. Edinho tem 60 dias, prorrogáveis por mais 30, para tomar posse do mandato na Casa. Ele pode fazer as duas coisas de uma só vez, assumir o mandato e se licenciar em seguida.